Uma musica alta me despertou do sono tranqüilo e eu abri um olho preguiçosamente. Demorei alguns instantes pra consegui focaliza-los e finalmente consegui lembrar onde eu estava. Assim que eu lembrei da noite anterior, uma pontada em minha cabeça me fez fechar os olhos rapidamente e me arrepender amargamente por ter bebido e chorado tanto. Tirei o travesseiro debaixo da minha cabeça e cobri meu rosto já que a claridade que entrava pelas frestas da cortina estava me incomodando.
A musica alta que parecia vir do vizinho finalmente abaixou e eu sorri pensando em voltar a dormir. Me ajeitei na cama e fiquei quieta esperando o sono voltar. Esperei durante minutos e mais minutos, mas não adiantou de nada, eu continuava acordada sentindo a cabeça latejar.
‘Merda.’ Resmunguei me levantando e sentindo meu corpo todo doer.
Saí daquele quartinho nos fundos do apartamento e caminhei pela cozinha sem fazer barulho, a casa toda estava em silêncio, provavelmente ninguém tinha acordado ainda. Entrei no corredor e vi que a primeira porta, que era do quarto de Micael estava fechada, a segunda estava aberta e não tinha ninguém lá, e a ultima estava encostada. Botei minha cabeça pra dentro com cuidado e vi que Arthur estava deitado na cama, e pra minha surpresa Diego estava ao seu lado, os dois dormindo. Sorri sentindo meus olhos encherem de lágrimas e saí do quarto entrando no banheiro.
Fiz uma careta encarando meu reflexo no espelho, eu estava parecendo um espantalho. Peguei uma escova que tinha ali em cima da bancada e tentei dar um jeito em meu cabelo prendendo-o em um coque, depois escovei meus dentes com o dedo mesmo. Quando saí do banheiro, Sophia estava saindo do quarto de Micael.
‘Bom dia, já acordada?’ Ela sorriu pra mim.
‘É, uma musica alta idiota me acordou e eu não consegui mais dormir.’ Falei baixo com medo de acordar Arthur e Diego.
‘Tá com fome?’ Ela fez careta e eu balancei a cabeça confirmando. ‘Já faço alguma coisa pra gente, espera só eu acordar direito e ir ao banheiro.’ Ela sorriu.
‘Tudo bem, to lá na cozinha.’ Falei e fui em direção a cozinha.
Minutos depois Sophia apareceu na cozinha e começou a preparar um café pra nós duas. Comemos em silêncio, o único som era o barulho da xícara batendo levemente na mesa.
‘Então, como você tá se sentindo?’ Sophia perguntou quando estávamos no sofá da sala.
‘Hm, melhor agora. Minha cabeça tá parando de doer, e meu corpo já tá mais leve.’ Falei sincera e ela sorriu. ‘O Diego tá aí.’ Falei vagamente e ela balançou a cabeça.
‘O Arthur trouxe ele pra cá ontem a noite.’ Sophia falou simplesmente.
Liguei a televisão, apenas pra não deixar o silêncio tomar conta da sala e fiquei olhando qualquer coisa que passava e eu não prestava atenção.
Já estava quase dormindo novamente quando Diego entrou na sala e meu coração acelerou com a possibilidade de Arthur vir logo depois, mas isso não aconteceu.
‘Bom dia, meu amor!’ Peguei Diego no colo e o abracei.
‘Quero comer.’ Ele falou sorrindo e Sophia riu.
‘Pera que eu vou pegar alguma coisa pra ele comer.’ Ela se levantou e foi até a cozinha.
‘Acho que vou pra casa, tenho que trabalhar à tarde. Já faltei faculdade, mas se faltar o estágio me chutam de lá!’ Falei me levantando do sofá. Micael e Arthur ainda não tinham acordado.
‘Relaxa, Lu, hoje é sexta, todo mundo falta faculdade dia de sexta.’ Sophia riu. Concordei silenciosamente e fui até a porta com Diego no colo.
‘Fala pro Micael que eu mandei um beijo.’ Falei já do lado de fora.
‘E o Arthur?’ Ela perguntou e a olhei dando de ombros. ‘Tchau.’ Ela riu.
Fui o caminho inteiro até em casa tentando imaginar minha reação quando visse Arthur, e principalmente... a dele quando me visse. Não fazia idéia do que falar pra ele, mas resolvi deixar pra pensar nisso depois. Cheguei em casa e liguei para que Kat fosse ficar com o Diego a tarde, já que eu não sabia se Arthur ia aparecer.
Duas horas depois eu cheguei ao trabalho atrasada e tive que ficar ouvindo a Margot berrar durante quase dez minutos sobe como estagiários são irresponsáveis e nunca estão preocupados com o trabalho, só querem se divertir e mais um bando de coisa que eu resolvi não ouvir.
‘É hoje que a madrasta tem um ataque do coração!’ Jake comentou rindo e eu sorri concordando. ‘Ela estava histérica achando que você ia faltar hoje. Algum problema?’ Ele me olhou preocupado.
‘Os de sempre.’ Balancei a cabeça. ‘Nada demais.’ Forcei um sorriso e acho que ele foi convincente, já que Jake não perguntou mais nada e voltou a checar os e-mails em seu computador. Aliás, quando não está servindo cafezinhos ou acatando ordens da Margot é só isso que ele faz.
Pra minha sorte, Margot me manteve ocupada a maior parte do tempo não me dando chances de lembrar que quando eu chegasse em casa, Arthur provavelmente estaria lá.
Quando o dia de trabalho terminou, eu enrolei o máximo que pude. Arrumei minha mesa várias vezes, fiquei conversando com todas as pessoas que passavam por mim, até fui tomar um cafezinho recebendo um olhar nada agradável da senhora que serve na cantina, já que ele queria fechar e eu insistia em puxar assunto e perguntar sobre as comidas que estavam expostas, mesmo sabendo que não ia comprar.
‘Ok, Lua, respire fundo.’ Falei pra mim mesma enquanto subia o elevador. Observei minha imagem no espelho e reparei em meus olhos ansiosos e ao mesmo tempo amedrontados. O elevador parou fazendo meu coração disparar e eu tive que contar até dez antes de finalmente encarar o corredor e a porta do apartamento. Parei na porta quando ouvi a risada de Diego, ele podia estar ainda com Kat, ou brincando com Arthur, e só tinha um jeito de eu descobrir isso.
'Mãe!' Diego correu para me abraçar e meu coração voltou ao ritmo normal quando eu vi que era Kat quem estava brincando com ele.
'Ei, meu amor!' O carreguei e beijei sua bochecha.
'Cadê o papai?' Ele perguntou fazendo bico e eu suspirei colando-o no chão novamente.
'Papai deve tá chegando, meu amor.' Sorri fraco. 'Kat, fica mais um pouco com ele, eu vou tomar banho e depois você pode ir, ok?' Ela concordou e eu fui pro quarto tentando imaginar onde Arthur estava. Antes de tomar banho peguei o celular e liguei pra Sophia.
'Tá melhor?' Ela perguntou com a voz preocupada e eu suspirei confirmando.
'O Arthur ainda tá na casa do Micael?' Tentei parecer indiferente, mas minha voz saiu um pouco desesperada.
'Nop! Ele saiu de lá antes de mim, tem um bom tempo já, Lu! Ele não tá aí?'
'Não, acabei de chegar e ele não tá aqui ainda. Será que ele tá com a Perola?' Abaixei a voz.
'Hm... é uma possibilidade.' Ela falou inexpressivamente. 'Eu tenho que ir, Lu, minha mãe tá me berrando aqui. Me dá noticia, ok?'
'Tudo bem. Beijo.' Desliguei bufando e fui tomar banho pra tentar esquecer Arthur por alguns minutos.
'Mãe, cadê o papai?' Diego perguntou novamente sentando em meu colo. Já estávamos na sala vendo tv a quase duas horas, e Arthur ainda não havia dado noticia.
'Ele já deve tá chegando, Diego.' Repeti a mesma coisa que tinha dito mais cedo. Afinal, onde estava Arthur? Essa pergunta martelava em minha cabeça e fazia meu coração ficar cada vez mais apertado.
'Tô com sono.' Ele reclamou esfregando o olho e fazendo bico.
'Vamos, vou te levar pra cama.' Ia me levantar, mas Diego agarrou meu braço.
'Não, quero esperar papai.' Ele sentou no chão cruzando os braços e eu respirei fundo.
'Diego, olha pra mamãe.' Falei tocando o queixo dele e ele me olhou. 'O papai tá trabalhando com o tio Micael, escrevendo musicas. Ele pode chegar tarde, meu anjo.' Falei da forma mais convincente possível. 'Vamos meu amor, quando o papai chegar eu falo pra ele ir lá te olhar.' Ele fez um bico ainda maior, mas mesmo assim deixou que eu o carregasse e o levasse pro quarto.
Depois de quase meia hora finalmente consegui fazer Diego dormir. Quando saí de seu quarto, ouvi meu telefone tocar e corri até a sala com o coração acelerando. Olhei no visor rezando pra ser Arthur, mas era o nome de Sophia que piscava na tela.
'Hey.' Falei tomando fôlego por causa da rápida corrida.
'Te acordei, amiga?' Ela perguntou receosa e eu neguei fazendo um barulho com a boca. 'Hm... o Arthur já chegou?'
'Nop!' Falei desanimada. 'Tô começando a ficar preocupada.' Olhei rápido pra porta pensando ter ouvido um barulho de chave, mas já estava começando a imaginar sons.
'Erm... eu tava conversando com o Micael alguns minutos atrás.' Ela parou parecendo medir as palavras. 'Erm... parece que a Perola é carta fora do baralho.' Ela falou um pouco mais baixo.
'Uhn?' Perguntei confusa e Sophia suspirou antes de responder.
'Se eu entendi bem, hoje pela manhã a Perola recebeu uma ligação de uma faculdade da França dizendo que ela tinha conseguido uma bolsa ou algo assim, mas parece que ela tem que ir pra lá o mais rápido possível...' Ela parou por alguns segundos. 'Se eu não me engano daqui a dois dias ela já tá lá.' Fiquei alguns segundos em silêncio tentando absorver tudo que Sophia tinha dito.
'T-tem certeza?' Gaguejei.
'Yep!' Ela confirmou.
'Ok!' Falei ainda um pouco desnorteada. 'Preciso desligar, o Diego tá um pouco inquieto. Até amanhã, beijo.' Menti e desliguei o telefone rápido.
Continuei sentada no sofá olhando pro nada e pensando na noticia que eu tinha acabado de receber. Perola tinha realmente conseguido a bolsa e agora ia morar França, muito provavelmente ela e Arthur iriam terminar o que nem tinham começado ainda. E porque eu não me sentia feliz com essa noticia? Talvez porque eu soubesse que com ou sem Perola , eu e Arthur ainda não voltaríamos a ficar bem, ele provavelmente iria procurar outra garota pra substituí-la. Ou quem sabe ele não iria querer mesmo substituí-la? Ele podia ter quantas garotas ele quisesse, sem se firmar realmente em uma. Suspirei pesadamente e fui para o quarto me jogando na cama.
Se a Perola ia pra França, então quem sabe eles não estavam juntos naquele exato momento? Eles podiam estar fazendo uma super despedida enquanto a idiota aqui estava em casa preocupada. Peguei meu iPod na bolsa e deitei novamente na cama, me encolhi embaixo dos cobertores e fechei os olhos deixando o iPod no shuffle. Eu só queria conseguir dormir sem ter que acordar no meio da noite por causa de um pesadelo qualquer.
Ouvi o barulho de uma porta batendo e meus olhos rapidamente se abriram, percebi que ainda estava com os fones no ouvido, mas não tocava nenhuma musica. A bateria provavelmente tinha acabado, sempre esquecia de carregar. Outro barulho me fez praticamente pular da cama, me levantei passando a mão pelo cabelo ainda tentando me orientar e fui tropeçando até a porta do quarto. A luz forte que vinha do quarto de Arthur me fez fechar os olhos rapidamente, e depois eu os abri calmamente até me acostumar com a claridade.
'Arthur?' Falei baixo caminhando até o quarto dele. O quarto aparentemente estava vazio, mas a luz do banheiro estava acesa também. Dei alguns passos lentamente. 'Arthur?' Perguntei de novo, e mais uma vez não ouve resposta. Mordi meu lábio um pouco hesitante e quando ia entrar no banheiro o som baixo da porta do quarto fechando me fez dar um pulo e girar rapidamente encontrando Arthur parado sorrindo.
O olhei durante alguns segundos e reparei em sua roupa amassada e seus cabelos bagunçados. Quando voltei meu olhar para seu rosto vi que aquele sorriso não era como qualquer outro que eu já tinha visto. Era um sorriso maldoso e junto com o olhar de Arthur estava cheio de más intenções.
'Procurando por mim, meu amor?' Ele perguntou com a voz rouca e um pouco embolada enquanto caminhava até mim. Quando estava a alguns passos de distancia eu senti o cheiro forte de álcool.
'Arthur, você tá bêbado.' Falei dando um passo pra trás e fazendo careta.
'Ah, só um pouco.' Ele riu e me puxou pela cintura beijando meu rosto.
'Arthur, me solta.' Falei me incomodando com a forma que ele me agarrava pela cintura. Os braços dele pareciam querer me sufocar e a boca dele já estava em meu pescoço de uma forma nada cuidadosa.
'Larga de ser chata, Lu, vamos nos divertir um pouco.' As mãos dele entraram embaixo de minha blusa percorrendo meu corpo, enquanto eu o empurrava pelo peito tentando afasta-lo.
'Pára com isso!!' Pedi quase chorando, mas ele não pareceu se incomodar.
Sua boca subiu para meu rosto e quando ele ia me beijar eu virei o rosto sentindo uma lágrima cair. Eu sabia que ele estava completamente bêbado e eu dificilmente conseguiria me livrar dos braços dele que me apertavam contra si.
'Arthur, você tá me machucando, me solta.' Comecei a esmurrar o peito dele e o puxar pela camisa, ele apenas deu um risinho baixo e me empurrou em sua cama deitando rapidamente por cima de mim sem nenhum cuidado.
'Você também quer isso, Lu, admite.' Sua mão desceu até a barra do meu short e ele começou a tirá-lo.
'Eu não quero.' Falei entre os dente empurrando a mão dele, mas Arthur foi mais rápido e segurou minha mão do lado do meu corpo. Sua boca continuava trilhando um caminho em meu pescoço, e eu tinha certeza que ali ficariam marcas tamanha era a força. 'Arthur, o Diego pode acordar, pára com isso.' Pedi desistindo de segurar as lágrimas. Eu me recusava a admitir que ele estava realmente fazendo aquilo, eu preferia nem imaginar a palavra que certamente qualificava aquele ato.
Enquanto eu lutava com apenas uma mão para afastá-lo sem o menor sucesso, sua outra mão conseguiu descer meu short até os joelhos e ele sorriu malicioso. Minha blusa já estava quase toda levantada e eu me senti completamente vulnerável. Se eu gritasse no máximo acordaria Diego.
'Já disse o quanto você é gostosa?' Ele me olhou sorrindo e eu mal enxergava seu rosto por causa das lágrimas.
Arthur segurou meus dois braços com força e foi descendo os beijos pela minha barriga, eu encolhi minhas pernas fechando meus olhos desejando desesperadamente que eu acordasse daquele pesadelo. Várias partes do meu corpo doíam por causa dos apertões que Arthur tinha dado. Senti sua boca fazer o caminho de volta para meu pescoço, eu desisti completamente de lutar, permaneci com meus olhos bem fechados enquanto sentia repulsa à mim mesma.
Arthur soltou um dos meus braços apenas para tentar sem sucesso abrir meu sutiã e depois ele rapidamente abriu sua calça. Meu choro silencioso passava completamente despercebido à luxuria de seus olhos.
Ele se posicionou em cima de mim com a mão na barra de minha calcinha e como um reflexo eu levantei meu joelho com força acertando o meio de suas pernas. Ele caiu ao meu lado gemendo de dor e fazendo careta e sem pensar duas vezes eu corri para meu quarto e tranquei rapidamente a porta.
Meu choro finalmente ganhou o quarto e eu não me senti capaz de mover um músculo sequer. Escorreguei ainda encostada na porta e abracei as pernas me encolhendo. Naquele momento eu sentia nojo de mim mesma, eu me sentia suja.
Eu sabia que não ia conseguir dormir, o medo dominava cada parte do meu corpo. Pensei em Diego sozinho no quarto, mas eu sabia que Arthur seria incapaz de tocar num fio de cabelo do próprio filho, não naquele estado.
O cheiro de álcool estava impregnado em minha roupa e eu me sentia enjoada. Juntei o pouco de força que me restava e corri para o banheiro, entrei embaixo do chuveiro numa tentativa desesperada de me livrar daquela sujeira.
A água morna ajudou a relaxar meu corpo, mas eu ainda tremia quando voltei pro quarto e procurei uma roupa qualquer pra vestir. Entrei embaixo dos cobertores e me encolhi o máximo que eu pude abraçando minhas pernas. A única coisa que eu queria era que aquela noite acabasse, mas eu sabia que na minha mente ela duraria pra sempre.
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