Acordei na manhã seguinte, sentindo uma respiração bater pesadamente em meu pescoço. Abri os olhos sem me mexer, e então senti um peso em minha cintura, olhei cuidadosamente pra baixo e vi a mão de Arthur entrelaçada na minha. Me virei um pouco ficando de barriga pra cima de modo que pudesse encarar o teto, Arthur não fez nenhuma menção de ter acordado, eu sorri sozinha e pousei minha mão livre delicadamente em sua nuca e fiquei acariciando seu cabelo.
A única coisa que se ouvia era o tic tac do relógio na cômoda, imaginei que devia ser cedo, já que Diego ainda não tinha acordado. Fiquei alguns instantes lembrando da noite anterior, e todos os meus pensamentos me levaram apenas pra uma pessoa... Anne.
Afinal, ela e Arthur estavam ficando e ainda assim ele falou aquilo tudo pra mim. Suspirei baixinho tentando adivinhar o que viria a seguir. Eu sabia que Arthur não tinha falado com ela no dia anterior, pelo menos não depois de eu estar acordada. Será que eles tinham brigado na festa ou alguma coisa do tipo? Resolvi não me animar demais, eu pude ver na festa que Arthur parecia realmente gostar dela, mesmo que fosse pouco comparado ao que ele sentia por mim (ou não), ele gostava dela, e eu sabia que ele a respeitaria.
Ouvi um risinho baixo e quando virei meu rosto vi Arthur me encarando com uma expressão engraçada.
‘Que foi?’ Perguntei um pouco sem graça.
‘Você estava tão absorta em pensamentos que eu parei pra admirar.’ Ele deu de ombros. Eu abri a boca pra falar alguma coisa, mas não emiti som algum. Voltei a encarar o teto enquanto sentia o polegar de Arthur passeando pelas costas da minha mão.
‘Eu senti falta de dormir sentindo o perfume do seu cabelo.’ Ele admitiu antes mesmo que eu pudesse perguntar. Eu reprimi um sorriso e apenas continuei encarando o teto.
‘Você sabe o que está fazendo, certo?’ Virei um pouco meu rosto podendo encarar seus olhos que expressavam duvida. ‘Digo, falando essas coisas pra mim.’ Ele abriu um pequeno sorriso no canto da boca e eu continuei o encarando séria.
‘Espero que sim.’ Ele falou baixo e eu concordei balançando a cabeça.
Os minutos que permanecemos em silêncio pareceram horas sem fim. Agora além do tic tac do relógio, eu podia ouvir sua respiração batendo constantemente em meu ouvido. Pensei em citar delicadamente alguma coisa sobre a Anne, mas nenhuma desculpa convincente surgiu em minha cabeça.
‘Hoje é domingo.’ Ele falou num tom de voz calmo e ao mesmo tempo deixando transparecer seu incomodo por causa do silêncio. Eu concordei balançando a cabeça sem olhá-lo. ‘Quer sair, fazer alguma coisa?’ Ele manteve a voz calma e eu suspirei.
‘Talvez.’ Dei de ombros, um pouco mais indiferente do que eu realmente estava. Senti seu olhar em meu rosto, me analisando atentamente e não ousei virar para encará-lo. De alguma forma, eu sentia o impacto das palavras que trocamos no dia anterior, e aquilo me deixava sem reação.
‘Você já pensou em ter dividir alguém que você ama muito, com outra pessoa?’ Falei me assustando com a naturalidade com que minhas palavras saíram. Eu estava me referindo à Anne, mas tinha certeza que ele não iria entender tão rápido.
‘Hm.’ Ele pareceu pensar por alguns instantes. ‘Provavelmente não.’ Respondeu num sussurro. Eu me virei pra encará-lo, mas seu rosto estava um pouco abaixado e ele parecia encarar nossas mãos ainda entrelaçadas.
‘Dói só de pensar.’ Eu admiti falando tão baixo quanto ele. Ele levantou os olhos encontrando os meus e ficamos nos encarando em silêncio.
Eu amava encarar os olhos de Arthur, apesar de eu raramente conseguir saber o que ele estava pensando ou sentindo, eu sempre podia ver sua inocência quando os encarava. Apesar de seus quase vinte e um anos, e de todas as indecências que ele vê, pensa e faz, é só olhar nos olhos dele para perceber que ele ainda é como uma criança. É como se eu pudesse ver o Diego através de seus olhos.
‘Não é como se a culpa fosse só minha.’ Ele finalmente falou num tom de defesa e eu imaginei se ele tinha entendido sobre o que eu estava falando.
‘Eu sei.’ Mordi meu lábio virando meu rosto para o outro lado já um pouco perturbada com os olhos de Arthur. O ouvi suspirar pesadamente e soltar delicadamente minha mão. Encarei isso como uma indireta para que encerrássemos o assunto permaneci calada encarando a parede ao meu lado.
‘O silêncio é um barulho assustador.’ Ele falou quando o silêncio já tinha se tornado mais aterrorizante que qualquer barulho estrondoso.
Eu ri levemente e me levantei sentindo minha cabeça pesar um pouco. Sentei na beirada da cama e abracei minhas pernas encostando minha testa em meus joelhos. Suspirei tentando fazer com que o maldito perfume de Arthur parasse de me intoxicar, mas acabei levantando quando percebi que não estava dando resultado.
Entrei no banheiro fechando a porta atrás de mim e encarei meu reflexo no espelho. Meus cabelos estavam um pouco bagunçados, mas pelo menos não havia olheiras ou qualquer sinal de cansaço em meu rosto. Penteei meus cabelos, prendendo-os num rabo de cavalo alto e escovei meus dentes lavando o rosto em seguida. Quando saí do quarto Arthur não estava mais lá, parei encarando a cama vazia e imaginei se ele já fazia alguma idéia de que eu sabia sobre Anne.
‘Bom dia, mamãe!’ Diego entrou no quarto sorrindo afastando meus pensamentos.
‘Bom dia, meu amor!’ O carreguei beijando sua bochecha.
‘Papai tá triste.’ Ele falou inocentemente pegando em meu rosto.
‘É? E porque você acha que o papai tá triste?’ Sentei na cama com ele em meu colo. Diego ficou algum tempo calado e depois voltou a me olhar.
‘Não sei, parece que tá triste.’ Ele fez bico e eu sorri fraco.
‘Então porque você não vai lá e dá um abração no papai, pra ele ficar feliz?’ O botei no chão enquanto ele concordava freneticamente, segundos dele ele saiu correndo do quarto. Suspirei pesadamente antes de me levantar e seguir o mesmo caminho que Diego.
Quando passei pelo quarto de Arthur, ele estava sentado na cama de costas pra porta com Diego em seu colo. Os dois riam enquanto Arthur parecia contar uma história boba pra ele fazendo sons engraçados com a boca. Encostei no batente da porta observando aquela cena, sem que eu percebesse o sorriso já estava estampado em meu rosto. Diego olhou pra mim e sorriu, chamando a atenção de Arthur, que olhou pra trás e me encarou sem sorrir. Nos olhamos por alguns segundos, então eu sorri fraco e saí do quarto ouvindo ele voltar a falar com o filho.
Caminhei lentamente até a sala e me sentei no sofá encarando a televisão desligada. Os dvd’s ainda estavam pelo sofá me fazendo novamente lembrar da noite anterior, um frio percorreu meu corpo quando eu lembrei das palavras de Arthur. Abracei minhas pernas e fechei os olhos inspirando ar gelado a minha volta.
‘Ei, não vale dormir de novo!’ Arthur apareceu na sala e eu o olhei, apesar de seu tom brincalhão, ele não sorria.
‘Não vou.’ Falei sorrindo fraco e só então ele sorriu da mesma maneira.
‘Quer tomar café?’ Ele perguntou já na cozinha.
‘Eu quero!’ Diego falou alto e nós rimos. Me levantei indo até a cozinha e sentei ao lado da cadeirinha de Diego.
‘Sanduíche ou torradas?’ Arthur perguntou botando algumas coisas na bancada.
‘Torradas!’ Eu e Diego respondemos juntos e sorrimos.
Arthur preparou algumas torradas e depois nós 3 comemos em silêncio. Eu não tinha muita coragem de olhar pro Arthur, e acho que o mesmo acontecia com ele, já que eu não sentia nenhum par de olhos me encarando.
‘Alguém quer ir ao shopping?’ Ele falou tão de repente que eu não consegui evitar um pequeno sobressalto. ‘Assustei tanto?’ Ele falou meio sem graça e eu sorri fraco colocando a mão no peito.
‘Shópi!!’ Diego animado como sempre começou a bater palminhas. Arthur me olhou como se questionasse a minha animação também, ou a falta dela.
‘Claro, shopping é sempre bom num domingo tedioso!’ Falei olhando para minha torrada, evitando o olhar de Arthur.
‘Arthur, amarra aqui atrás pra mim, por favor?’ Pedi segurando os cordões da blusa frente única preta que tinha vestido. Ele sorriu fraco e eu me virei de costas, quando ele segurou os cordões prendi meu cabelo num coque frouxo para que não o atrapalhasse.
Senti a respiração dele batendo em meu pescoço, enquanto suas mãos lentamente amarravam a blusa e tocavam minha pele me fazendo fechar os olhos.
Talvez fosse a falta de prática dele, mas nunca amarrar uma blusa demorou tanto, eu já sentia minhas pernas moles e minha respiração começava a ficar pesada. Quando ele finalmente pareceu terminar sua mão desceu calmamente por minhas costas, enquanto a outra segurou firme em minha cintura. Sua respiração pareceu bater com maior força em meu pescoço, e só então em senti seu nariz passeando calmamente por meu ombro, até seus lábios alcançarem meu pescoço.
Se minhas pernas já estavam moles antes, agora eu mal me agüentava em pé, mas suas duas mãos seguravam firmemente em minha cintura, mantendo meu equilíbrio. A boca dele roçava em meu pescoço e em minha nuca e eu sabia aonde aquilo ia dar, mas eu continuava imóvel, tentando manter minha sanidade e minha estabilidade. Arthur começou a beijar calmamente meu pescoço, até bem perto do meu ouvido.
‘MÃE!’ A voz de Diego vez com que nós dois pulássemos com a respiração completamente descompassada. Eu vi de relance Arthur passar a mão pelo cabelo fazendo uma careta e respirei fundo saindo do quarto.
‘Diga, meu amor!’ Falei com um sorriso fraco entrando no quarto de Diego.
‘Eu quero!’ Ele apontou uma miniatura das tartarugas ninjas que estava fora de seu alcance. Peguei o boneco e o entreguei.
‘Agora vai ficar lá no quarto enquanto a mamãe termina de se arrumar!’ O peguei pela mão enquanto ela ia brincando com a tartaruga ninja.
Deixei Diego brincando em minha cama, já arrumado e fui para meu banheiro. Prendi novamente meu cabelo em um rabo alto, passei uma maquiagem básica e clara e em menos de dez minutos já estava no sofá com Diego, esperando por Arthur.
‘To pronto!’ Ele apareceu com um sorriso um tanto quanto fofo na sala. Diego se levantou rápido e foi logo pra porta. Me levantei observando a roupa de Arthur; uma camisa pólo listrada, uma bermuda preta larga e um tênis branco. Sorri quase que inconscientemente.
‘Sua gola!’ Eu falei me aproximando e arrumando a gola da camisa que estava levantada. Ele sorriu quando eu terminei.
‘Vamos agora?’ Ele olhou de mim pra Diego que concordou freneticamente.
Saímos de casa em silêncio e assim seguimos até o shopping. Diego parecia que nunca tinha saído de casa, quase saiu correndo pela garagem do shopping, se Arthur não tivesse corrido e o segurado eu prefiro nem imaginar alguma tragédia que podia ter acontecido.
‘Diego, que maluquice é essa agora, filho?’ Falei com uma cara zangada e ele fez bico. ‘Não sai correndo assim tá?’ Dei um beijo em sua testa e ele concordou.
‘O que a gente veio fazer aqui mesmo?’ Arthur me olhou sorrindo de lado quando já estávamos caminhando pelo shopping.
‘Nem me olha com essa cara. A idéia foi sua, meu bem!’ Dei de ombros e ele riu.
‘Ok, vamos passear então!’ Ele pegou em minha mão enquanto com a outra ele segurava a mão de Diego.
‘Binquedo!’ Diego sorriu apontando pra uma enorme loja cheia de brinquedos.
‘Você entra e eu fico aqui fora esperando!’ Arthur riu e eu quase mandei dedo.
‘No way, Aguiar! Arque com as conseqüências agora!’ Falei empurrando ele pra dentro da loja.
‘Tigre!’ Diego apontou pra um enorme tigre de pelúcia e correu até a estante esticando o braço.
‘Aqui, príncipe!’ Sorri lhe entregando o tigre que era quase maior do que ele.
‘Será que aqui tem controle pro Xbox? O meu tá meio ruim!’ Arthur falou olhando em volta.
‘Eu acho que essas coisas tem no andar de cima.’ Falei apontando pra uma escada rolante.
‘Ok, vou lá ver!’ Ele sorriu e se afastou. Me agachei pra ficar do tamanho de Diego enquanto ele brincava com o tigre.
‘Bigode!’ Ele falou pegando no bigode do tigre de pelúcia e eu sorri. ‘Urso!’ Diego apontou pra um urso um pouco menor que o tigre e eu me levantei pra pegar.
‘Opa, desculpa!’ Falei quando me bati em alguém e me virei pra me desculpar.
‘Não tem problema!’ Uma morena falou simpática. ‘Lu?’ Ela me olhou em duvida e eu prendi a respiração por alguns segundos.
‘Hey, Anne!’ Tentei parecer um pouco animada, mas foi uma tentativa completamente frustrada já que minha voz saiu fraca e desanimada.
‘Que coincidência te encontrar aqui!’ Ela falou dando beijinhos em minhas bochechas. ‘Tudo bem?’ Ela sorriu e eu forcei um risinho.
‘Tudo bem sim!’ Falei e senti Diego puxar o urso que estava em minha mão.
‘Mãe, me dá!’ Ele falou me olhando e eu sorri lhe entregando o urso.
‘Esse é o Diego?’ Anne falou sorrindo. Pelo visto ela sabia mais do que eu imaginava sobre o Arthur.
‘É sim!’ Passei a mão na cabeça de Diego e ele olhou sorrindo pra Anne.
‘Tudo bem, Diego?’ Ela se agachou pra falar com ele enquanto eu sentia meu coração acelerar só de pensar que o Diego podia achar ela legal.
‘Lu, achei esse controle aqui...’ Arthur apareceu sorrindo e olhou assustado enquanto Anne se levantava sorrindo. ‘Anne?’
‘Hey, Arthur!’ Ela sorriu abertamente e eu tive que olhar pra algum canto da loja e contar até dez pelo menos. ‘Esbarrei sem querer na Lu!’ Ela falou animada. ‘E ainda conheci o Diego! Ele é lindo!’ Ela bagunçou os cabelos de Diego.
‘Claro, é meu filho!’ Arthur falou pretensioso e ela lhe deu um tapinha no braço.
‘Erm... eu vou lá olhar o brinquedo que o Diego queria ver.’ Sorri sem graça e peguei Diego no colo sem nem olhar pra cara de Arthur.
Andei apressada pela loja até estar suficientemente distante dos dois, botei Diego no chão e dei um longo suspiro tentando me acalmar. Quando olhei pra baixo vi Diego me olhando sem entender nada, eu sorri fraco e o peguei pela mão.
‘Vamos dar uma passeada na loja, meu amor!’ Ele sorriu concordando e fomos andando devagar enquanto ele observava as prateleiras cheias de brinquedos e bonecos.
Eu estava perdida em pensamentos quando senti Diego puxar minha mão e apontar pra um enorme urso que segurava um coração, igual ao que Arthur tinha me dado de aniversário. Eu sorri sem acreditar que logo naquela hora eu tinha que encontrar aquele urso. Ele ainda ficava em cima da minha cama e eu perdi a conta de quantas vezes dormi abraçada com ele, o cheiro de Arthur já tinha praticamente sumido, mas ainda assim eu conseguia senti-lo.
Lembrei do dia do meu aniversário e a musica que eu e Arthur dançamos começou a tocar na minha cabeça e as imagens ficavam cada vez mais claras. Eu não sabia se Arthur ainda se sentia da mesma forma por mim, eu queria que ele tentasse novamente, queria ter outra chance. Mas será que se eu tivesse, eu finalmente diria a ele o quanto eu o amo? Ou novamente iria fugir e dar uma desculpa esfarrapada qualquer pra não ouvir dele o que eu sempre quis, aquelas três palavras que eu nunca tinha ouvido sair da boca dele.
Senti uma lágrima descer por meu rosto e só então percebi que ainda estava parada observando o enorme urso no alto da prateleira. Passei rapidamente a mão pelo rosto e reparei que Diego não estava mais ao meu lado, quando olhei pra frente meus olhos encontraram com os de Arthur que me encarava com o rosto sério e sem reação. Meus olhos arderam por causa das lágrimas que estavam se acumulando e minha única reação foi virar e sair depressa da loja. Arthur não correu atrás de mim, e nem chamou meu nome. Eu caminhei depressa até um banco um pouco afastado da loja e sentei respirando fundo para que as lágrimas não caíssem. Algumas pessoas passaram me encarando, mas eu apenas abaixei a cabeça e fiquei respirando calmamente, até a vontade de chorar passar por completo.
Fiquei algum tempo encarando o chão do shopping, até sentir alguém sentar do meu lado e aquele perfume intoxicante chegar até mim. Nem precisei olhar pro lado pra saber que era Arthur, e ele também não falou uma palavra. Diego esticou os braços para que eu o pegasse no colo e eu sorri beijando o topo de sua cabeça.
‘Você tá triste?’ Diego perguntou depois de alguns minutos. Incrível como ele parecia saber exatamente o que estava havendo ali. Eu sorri fraco balançando a cabeça.
‘Não, meu amor, a mamãe não tá triste!’ Ele passou a mão pelo meu rosto e sorriu.
‘Quero ir pra casa!’ Eu ri baixinho por causa do bico que ele fez.
‘Seu pedido é uma ordem, meu príncipe! Vamos pra casa!’ Falei me levantando. Arthur fez o mesmo, mas continuou calado e apenas seguiu ao meu lado.
O silencio no carro já tinha se tornado assustador e às vezes eu tinha a impressão de conseguir ouvir meu próprio coração. Já estava quase roendo as unhas e não agüentava mais olhar pra fora da janela.
‘Ela sabe sobre a gente?’ Quebrei o silencio e ouvi Arthur suspirar calmamente. Ele demorou algum tempo pra responder.
‘Sabe.’ Falou baixo sem desviar a atenção do transito.
‘Quanto ela sabe?’ Continuei perguntando sem encará-lo.
‘Quase nada. Só o básico.’ Ele respondia sempre no mesmo tom que eu.
‘Ela sabe do acidente?’ O olhei de relance e vi que ele balançou a cabeça positivamente.
‘Sabe.’ Ele respondeu simplesmente.
‘Ela não sente ciúmes?’ Perguntei instantes depois. Pareceu uma eternidade até Arthur finalmente responder.
‘Se ela soubesse o que eu sinto por você, ela sentiria.’ Não consegui responder nada, voltei a encarar a rua e dessa vez realmente fiquei com medo que ele escutasse meu coração que parecia que gritava.
O silencio caiu novamente no carro e assim permaneceu até chegarmos em casa. Fui direto pro quarto enquanto Arthur ficou vendo tv na sala com Diego. Deitei na cama e fiquei encarando o teto sentindo meu coração acelerar toda hora que eu lembrava o que Arthur havia dito. Tentei imaginar como nós dois estaríamos se eu não tivesse feito a burrada em meu aniversário, mas a imagem de Anne e Arthur juntos sempre invadia minha mente, me fazendo esquecer de outras imagens felizes. Lembrei que teria uma prova na quarta e resolvi deixar minhas ilusões de lado e estudar.
Fiquei horas lendo e resumindo vários textos, até sentir meu estomago implorar por comida, olhei no relógio e vi que já estava no meio da tarde. Levantei me espreguiçando e fui até a cozinha. Quando cheguei na sala vi Arthur e Diego dormindo no sofá com a tv ligada. Sorri sozinha e desliguei a tv tomando cuidado para não acorda-los. Entrei na cozinha e peguei um pacote de biscoito, algumas barrinhas de chocolate e uma latinha de coca e voltei pro quarto em silêncio.
‘Mãe!’ Diego entrou no quarto algum tempo depois.
‘Yay, você acordou, minha criança!’ Falei sorrindo e o coloquei em meu colo.
‘Quero comer.’ Ele fez bico e eu ri.
‘Vamos lá na cozinha pra eu preparar alguma coisa pra você!’ Falei me levantando e senti minhas pernas fraquejarem por ter ficado tanto tempo sentada.
Passei pelo quarto de Arthur e a porta estava encostada.
‘Hm, vamos ver o que tem por aqui.’ Abri o armário enquanto Diego me olhava. ‘Sopa!’ Mostrei um pacotinho de sopa de letrinhas e ele fez cara feia. ‘Pipoca?’ Falei em duvida e ele negou balançando a cabeça.
‘Pizza!’ Ele sorriu e eu o olhei.
‘Não tem pizza aqui, meu amor. Só se a gente pedir.’ Ele concordo freneticamente e eu ri. ‘Ai, que trabalho que você me dá, Diego!’ Falei rindo e fui até o telefone. Pedi metade calabresa e metade mussarela já que sabia que Arthur também ia querer.
Desliguei o telefone e sentei no sofá pra ver tv, enquanto Diego brincava no chão com alguns carrinhos. Minutos depois Arthur apareceu na sala apenas de boxer e com os cabelos molhados, se jogou, literalmente, no sofá e deitou a cabeça em meu colo.
‘Lu, to com fome.’ Ele falou se virando pra tv e eu ri baixinho.
‘Pedi pizza.’ Falei observando a tv.
‘Calabresa?’ Ele me olhou sorrindo.
‘Metade de cada.’ Sorri ainda observando a tv, ele concordou balançando a cabeça e se virou novamente. Arthur pegou minha mão e colocou em seu cabelo molhado. Eu ri e comecei a fazer carinho em sua cabeça.
Observei os clarões formarem desenhos assustadores na parede enquanto a chuva batia fortemente na janela. Me encolhi embaixo do cobertor grosso, mas ainda assim estava morrendo de frio. Fiquei algum tempo enrolando na cama sem conseguir dormir, até me levantar e pegar um enorme moletom de Arthur e vesti-lo por cima da blusa de manga comprida que eu usava.
Fui até o corredor e observei a porta entreaberta do quarto de hospedes que estava com uma luz fraca acesa. Minha vontade era olhar o que Arthur estava fazendo, mas resolvi ir até o quarto de Diego. O observei respirar calmamente sem se importar com o barulho da chuva ou os clarões provocados pelos trovões. Olhei o relógio e vi que já eram meia noite e meia.
Voltei pro corredor escuro e me encostei no batente da porta de Arthur, onde pude ver que ele estava sentado na cama com um caderno no colo, vez ou outra ele fazia alguma anotação e parecia falar algumas coisas baixinho.
Ele deu um longo suspiro e fechou o caderno colocando-o no criado mudo.
‘Cara, não me mata de susto!’ Ele falou colocando a mão no peito e me olhando.
‘Desculpa, não queria atrapalhar.’ Sorri fraco.
‘Não consegue dormir?’
‘Nop. Odeio esses trovões que ficam fazendo desenhos medonhos na parede.’ Falei dando de ombros e ele riu.
‘Vem cá.’ Ele chegou pro lado e deixou um espaço vazio na cama de solteiro. Sentei ao seu lado e abracei minhas pernas. ‘Você adora usar meus casacos né?’ Ele riu observando o enorme casaco preto que eu estava vestida.
‘Eles são grandes e quentinhos.’ Falei com voz de criança. ‘Não tá com frio?’ Perguntei percebendo que ele continuava apenas de boxer.
‘Não muito.’ Ele deu de ombros. O barulho de um trovão vez com que eu me encolhesse ainda mais e encostasse minha testa em meus joelhos. ‘Deita aqui.’ Arthur falou levantando o cobertor e eu fiz o que ele pediu. Ele deitou ao meu lado e soltou o cobertor em cima de nós dois.
‘Não vou conseguir dormir.’ Falei me virando de costas pra ele.
‘Claro que vai!’ Ele se esticou e apagou o abajur que ainda iluminava uma parte do quarto.
Senti Arthur passar um braço por minha cintura e me apertar contra o corpo dele. Ele afastou meu cabelo do meu pescoço e encostou levemente o queixo em meu ombro. Os lábios dele encostaram delicadamente em meu pescoço, trilharam lentamente um caminho até meu ouvido e ele começou a cantar baixinho. ( The Sounds – The Morning Light)
"Don't you dare tell me I am the reason we are here,
( Não se atreva a me dizer que eu sou a razão de estarmos aqui, )
I've spent enough sleepless nights in this bed,
( Eu já passei noites suficientes sem dormir nessa cama, )
To know this isn't just all in my head.
( Para saber que isso não está apenas na minha cabeça. )
And don't you say that i'm ruining what we've made,
( E não diga que eu estou arruinando o que criámos, )
We know enough to know we're both to blame
( Nós sabemos o suficiente para saber que ambos temos culpa )
It's like your leaving, but you don't know the way
( É como você partindo, mas não sabe o caminho )
So I say...
( Então eu digo... )"
I can't believe myself,
( Eu não acredito em mim, )
I'm wishing to be anyone else.
( Estou desejando ser qualquer outra pessoa )
And I'm feeling like all this hell,
( E eu sinto que todo este inferno, )
Might shape something good in the end
( Pode formar algo bom no final )
Lentamente meus pensamentos começaram a sumir e eu sentia que o sono ia me vencendo.
And I well I just can't find a reason why,
( E eu só não consigo encontrar uma razão, )
Why you intentionally say, "goodbye."
( Para você dizer intencionalmente, "adeus." )
If this mess were up to me we'd see eye to eye.
( Se essa confusão estivesse ao meu alcance nós iríamos ver olho por olho. )
But you get bored and run from the honest life,
( Mas você fica entediada e foge da verdadeira vida, )
Sometimes I swear you're making me loose my mind!
( Algumas vezes eu juro que você me faz perder a cabeça! )
So I'll keep singing...
( Então continuarei cantando... )
It was the look on your face when I called out your name,
( Foi a expressão na sua cara quando chamei seu nome, )
It was the days waiting for you alone in the rain.
( Foram os dias esperando por você, sozinho, na chuva. )
Take me back to the time when I wished you could stay,
( Me leve de volta para os tempos onde eu desejava que você ficasse, )
Now were here at your front steps where I watch you fade away.
( Agora nós estamos aqui nos degraus de sua casa onde eu assisti você desaparecendo. )
...Oh my god this town it feels like a headache,
( Oh meu Deus essa cidade é uma dor de cabeça )
...I thought you were a safe bet.
( Eu pensava que você era uma aposta segura. )
Mais
ResponderExcluiramei a musica e linda!!
ResponderExcluir