A correria na casa de Katia já estava me deixando tonta, não agüentava mais subir e descer escadas, sair e entrar no carro, correr pra dentro e fora de casa. Só esperava que tudo fosse recompensado mais tarde quando Diego chegasse e encontrasse tudo pronto pro seu aniversário.
‘Lu, o pessoal do buffet acabou de chegar acabou de chegar, você vai lá falar com eles, ou quer que eu fale?’ Arthur me olhou enquanto eu estava deitada na cama do quarto de hospedes. Tinha conseguido ficar livre por dez minutos e a única coisa que eu consegui fazer foi correr para o quarto, a dor em meus pés estava me matando.
‘Fala com eles Arthur, por favor. Acho que se eu descer agora e encontrar alguma coisa fora do lugar vou ter um ataque histérico.’ Sorri fraco observando o teto do quarto com atenção. A verdade é que depois daquela ligação as coisas entre mim e Arthur tinham ficado um pouco melhores, mas agora eu mal conseguia encara-lo nos olhos.
‘Ok. Descansa Lu, senão de noite você não vai aproveitar nada.’ Ele falou antes de fechar a porta e eu concordei fechando os olhos.
‘Lu, eu disse pra você descansar, pode deixar que eu faço tudo por aqui.’ Arthur me olhou sorrindo enquanto eu descia as escadas.
‘Não consigo.’ Entortei a boca com uma cara inocente. ‘Tentei dormir um pouco, mas eu quero ajudar aqui, não quero ficar parada.’ Dei de ombros.
‘Minha mãe ligou e disse que tá chegando, fica aqui na sala esperando ela então.’ Ele apontou pro sofá. ‘Vou lá fora conferir tudo.’ Ele piscou e saiu pela cozinha.
Fiquei alguns minutos sentada no sofá observando a tv desligada, até que uma buzina me despertou e eu corri pra fora de casa.
‘Katia!’ Falei animada enquanto ela saia do carro, ela abriu um sorriso e veio me abraçar.
‘Tudo bem por aqui? Vejo que você e o Arthur estão fazendo um ótimo trabalho.’ Ela observou a casa que já estava um pouco enfeitada com bolas e alguns brinquedos no jardim da frente.
‘É, a gente tá se esforçando.’ Falei rindo. ‘Como foi a viagem? Sua prima tá melhor?’ Perguntei ajudando-a a carregar as malas pra dentro de casa.
‘Mais ou menos.’ Ela suspirou. ‘Daqui a pouco eu falo sobre isso. Onde está meu filhote?’ Ela sorriu passando os olhos pela casa.
‘Mãe?’ Arthur entrou na sala e abriu um sorriso enorme ao ver Katia.
‘Que saudade de você, meu bebê!’ Ela abraçou Arthur e depois se soltou examinando o rosto dele. ‘Se cuidou direitinho sem a mamãe?’ Ela falou com uma voz de criança e eu ri baixinho.
‘Mãe, menos!’ Arthur fez uma cara de terror. ‘Vem aqui fora ver como tá tudo ficando lindo.’ Ele pegou a mão de Katia e estendeu a outra mim sorrindo. Eu peguei em sua mão e senti uma sensação boa passando por todo meu corpo.
‘Ah, mas que coisa linda!’ Katia falou quando chegamos ao jardim que estava todo arrumado com mesas, balões, um pula-pula mais atrás e alguns outros brinquedos infantis. ‘E o Diego?’ Ela me olhou sorrindo.
‘Deixei ele em casa com a Kat, e por falar nisso eu tenho que ir logo! Preciso me arrumar e arrumar ele também né?’ Sorri sem graça.
‘Lu, posso falar com você antes?’ Katia perguntou me acompanhando.
‘Pode claro, vamos lá no quarto de hospedes pra eu pegar minha bolsa.’ Sorri.
Chegamos no quarto e Katia ficou em silêncio enquanto eu arrumava minha bolsa.
‘Pode falar, Katia.’ Sorri sincera sentando na cama e ela se sentou ao meu lado.
‘Lu, eu só voltei hoje pro aniversário de Diego, amanhã pela tarde eu vou voltar pra Liverpool.’ Ela falou séria.
‘Aconteceu alguma coisa com a sua prima, Katia? Achei que ela estivesse melhor.’ Falei me virando de frente pra ela.
‘Na verdade não. Ela tá pior do que estava, a gente não sabe bem se ela vai conseguir se recuperar.’ Ela estava com uma cara triste e eu peguei em sua mão.
‘Eu sinto muito, Katia.’ Falei baixo.
‘Só que tem uma coisa que eu preciso te contar, querida.’ Ela voltou a ficar séria e eu balancei a cabeça concordando. ‘Eu vou me mudar pra Liverpool, Lu. Preciso ficar lá com minhas irmãs e meus primos, estamos todos reunidos lá para ver se isso ajuda a Emma.’ Ela disse se referindo à prima doente.
‘Ah, tudo bem, Katia.’ Sorri fraco. ‘Você vai fazer falta aqui, mas se você precisa ficar lá e se isso pode ajudar a Emma, então você realmente deve ir.’ Tentei lhe passar confiança e ela sorriu agradecida.
‘Só mais uma coisa, Lu.’ Ela suspirou. ‘Eu vou vender essa casa.’ Ela me olhou apreensiva e por alguns segundos eu fiquei sem entender o porque da apreensão dela, mas logo depois Arthur me veio na cabeça. Onde ele iria morar? ‘E eu quero te pedir um favor.’ Ela sorriu fraco e eu balancei a cabeça concordando. ‘O Arthur poderia ir pra casa de algum dos garotos, mas o Chay praticamente vive com a namorada, e o Micael e o Pedro são completamente irresponsáveis.’ Ela riu. ‘Não que eu não goste deles, muito pelo contrário, são como meus filhos também, mas eu não sei se daria certo se o Arthur fosse morar com um deles.’ Eu fiquei um tempo a observando tentando entender aonde ela queria chegar.
‘E você quer que eu e o Arthur voltemos a morar juntos.’ Falei suspirando e ela concordou.
‘Olha Lu, eu sei que vocês estão se entendendo bem e sei que vocês se gostam. O Arthur sempre me fala de você e de como ele se sente estranho por não lembrar de nada e ainda assim ter a sensação de te conhecer a muito tempo.’ Ela sorriu. ‘Você se importa de voltar a morar com ele?’ Ela perguntou sorrindo. Obvio que ela não sabia que algumas semanas atrás eu tinha encontrado Arthur com outra, não queria contar nada, sabia que ela iria ficar muito decepcionada com o filho. Suspirei e sorri fraco.
‘Sem problemas.’ Falei baixo e ela me abraçou.
‘Obrigada, querida. É um alivio pra mim saber que Arthur estará em boas mãos.’ Ela riu e eu concordei.
‘Bom, melhor eu ir, está ficando tarde e daqui a pouco tenho que voltar com Diego.’ Me levantei e Katia fez o mesmo.
‘Vamos, te levo até a porta.’ Ela sorriu e fez um gesto para que eu fosse na frente.
‘Vira pra mamãe pra ver como ficou!’ Diego se virou de frente pra mim e sorriu. ‘Tá lindo meu amor!’ O abracei forte. Ele estava com uma calça jeans, uma blusa pólo preta e os cabelos molhados e penteados para o lado, acho que se eu bagunçasse o cabelo dele corria o risco de o confundirem com o Arthur. Sorri comigo mesma por causa desse pensamento bobo e me olhei no espelho. Eu estava parecendo a versão feminina do meu filho, uma calça jeans no mesmo tom claro, com uma blusa preta de ombros caídos e um all star branco. ‘Tá bom?!’ Perguntei olhando pra Diego e ele sorriu. ‘Vamos, meu amor!’ O peguei pela mão e caminhamos até a porta.
Quando chegamos em frente a casa de Katia, Diego abriu um sorriso maior que o próprio rosto. Caminhamos pelo jardim e quando chegou um pouco próximo do lado da casa que dava acesso aos fundos Diego saiu correndo e eu fiquei sem entender. Me aproximei um pouco mais rápido e quando olhei ele estava sorrindo no colo de Arthur.
‘Hey!’ Me aproximei sorrindo e sentindo meu estomago dar voltas.
‘Você tá linda!’ Ele sorriu sincero e eu senti vontade de enfiar minha cabeça em algum buraco. ‘Não precisa ficar vermelha.’ Ele falou rindo e eu dei um soquinho em seu braço.
‘Pára, Arthur.’ Falei rindo sem graça.
‘Brincá!’ Diego falou sorrindo e apontando para os brinquedos no fundo do jardim.
‘Vamos falar com todo mundo, meu amor, depois você vai brincar.’ Sorri arrumando a gola da camisa dele enquanto ele ainda estava no colo de Arthur.
‘Vamos?’ Arthur sorriu olhando de Diego pra mim e nós dois balançamos a cabeça confirmando. Ele estendeu a mão pra mim e eu o olhei receosa. ‘Vai Lu, nós somos os pais do aniversariante, é só dar a mão!’ Ele falou sorrindo e não controlei um sorriso também, peguei em sua mão e caminhamos até as mesas para cumprimentar as pessoas.
‘Ai meu Deus.’ Falei rindo e desviando de varias crianças que corriam pelo jardim.
‘Céus, essas crianças não tem senso de direção!’ Sophia riu. ‘Lu, essa festa tá tão linda.’ Ela sorriu sincera.
‘Ai que bom, deu trabalho! Meus pés estão doendo até agora.’ Falei me sentando em um banco um pouco afastado dos brinquedos e das mesas. ‘Ai, não acredito que meu filho já está fazendo 3 anos!’ Sorri comigo mesma.
‘O tempo tá passando tão rápido.’ Sophia soltou um riso abafado. Ficamos em silêncio alguns instantes até ouvirmos duas vozes conhecidas se aproximarem.
‘As duas afastadas de todo mundo, fofocando é?’ Micael se aproximou sorrindo, e Arthur riu.
‘Não bobo, estamos apenas descansando.’ Soph deu língua e ele sentou ao lado dela. Arthur continuou em pé, na minha frente.
‘Lu, o Arthur tava me falando que arrumou essa festa toda sozinho, e que você ficou no quarto dormindo! Eu não quis acreditar, mas ele me garantiu.’ Micael riu e eu olhei incrédula pra Arthur.
‘É mentira, Lu!’ Ele gritou rindo e mandou o dedo do meio pra Micael. ‘Seu gay, eu falei exatamente o contrário.’ Ele me olhou sorrindo.
‘Ah bom, pensei.’ Falei dando de ombros e rindo.
‘Senta aí Arthur, fica em pé parecendo poste.’ Micael falou rindo e chegando pro lado puxando Soph junto com ele, consequentemente Arthur sentou ao meu lado.
‘Cara, não acredito que meu filho já tem 3 anos, e eu nem ao menos consigo me lembrar de vê-lo crescer.’ Ele falou com um olhar perdido um tempo depois. Micael e Sophia cochichavam baixo e não prestavam atenção. Eu abri a boca pra falar alguma coisa, mas nada me veio em mente. Suspirei encostando minha cabeça em seu ombro, ele pegou minha mão e ficou brincando com meus dedos.
‘Vamos pegar alguma coisa pra beber, vocês querem?’ Sophia perguntou se levantando e Micael fez o mesmo dando a mão pra ela.
‘Não.’ Eu e Arthur respondemos juntos eles saíram caminhando pelo jardim. Eu fechei os olhos ainda com a cabeça no ombro de Arthur e suspirei sentindo seu perfume.
‘Minha mãe já te contou, né?’ Ele perguntou depois de alguns instantes de silêncio.
‘Uhum.’ Respondi me virando pra ele e encostando queixo em seu ombro. ‘Ela vai fazer falta por aqui.’ Falei baixo.
‘Eu sei.’ Ele suspirou olhando pra nossos dedos entrelaçados. Aquela cena estava típica de um filme romântico com um casal apaixonado. Encolhi minhas pernas no banco quando um vento gelado passou por nós e sem perceber acabei grudando meu corpo no de Arthur, deixando nossos rostos muito próximos. Ele virou o rosto e nossos narizes quase se tocaram, ele sorriu enquanto eu estava completamente hipnotizada olhando seus olhos. Senti Arthur aproximar o rosto devagar, a respiração dele começar a bater em minha boca e nossos narizes se encostarem. Quando nossas bocas roçaram uma na outra, algumas crianças passaram por ali correndo e gritando e nós nos separamos rápido.
Respirei um pouco ofegante e soltei minha mão da dele passando pelos meus cabelos.
‘É melhor a gente voltar pra lá.’ Falei um pouco rápido e me levantei. Arthur resmungou alguma coisa e me acompanhou de volta até as mesas.
A casa já estava quase vazia, apenas pessoas da família, os garotos da banda e Soph estavam sentados conversando. Diego estava em meu colo dormindo, o observei por alguns instantes e reparei em seus cabelos bagunçados. Sorri comigo mesma constatando que se eu tivesse bagunçado os cabelos dele antes de vir pra festa ele realmente poderia ser confundido com o pai.
‘Ele dormiu?’ Arthur perguntou baixo e eu balancei a cabeça confirmando.
‘Acho melhor eu ir pra casa, também tô cansada.’ Falei sem encarar Arthur.
‘Dorme aqui.’ Ele sorriu e eu o olhei assustada. ‘Amanhã minha mãe quer fazer um almoço de despedida, é mais fácil se você dormir aqui.’ Ele falou animado.
‘Não Arthur, eu vou pra casa e amanhã eu venho.’ Sorri fraco.
‘Mãe!’ Arthur gritou acenando pra Katia e ela se aproximou sorrindo. ‘Fala pra Lu que é mais fácil ela dormir aqui, pra não ter que voltar amanhã.’ Ele fez cara de criança.
‘Ah, é verdade!’ Katia sorriu pra mim. ‘Esqueci de te falar minha querida, quero fazer um almoço de despedida amanhã, e é tão mais fácil se você dormir aqui! O quarto de hospede tá vazio, e o Diego já tá dormindo tão bonitinho.’ Ela passou delicadamente a mão pelos cabelos de Diego. Eu suspirei tentando achar alguma desculpa pra fugir daquilo, mas nenhuma me veio em mente.
‘Ok.’ Sorri fraco.
‘Ah, que bom! Vou te emprestar uma roupa pra dormir, e aí deve ter algumas do Diego. Vamos lá pro quarto.’ Ele me ajudou a levantar com Diego no colo.
‘Deixa que eu vou mãe, fica aí com minhas tias.’ Arthur apontou para uma mesa onde algumas mulheres conversavam rindo alto.
‘Tá bom! Dorme bem, Lu!’ Ela me deu um beijo na testa e eu sorri.
Caminhamos em silêncio até o quarto e Arthur abriu a porta para que eu entrasse com Diego no colo.
‘Vou pegar uma roupa pra vocês!’ Ele falou saindo do quarto. Deitei Diego na cama e fiquei o observando respirar calmamente. ‘Pronto.’ Arthur voltou sorrindo e me estendeu uma camisola, que devia ser de Katia e uma blusa comprida de Diego. ‘Deixa que eu visto ele, Lu! Enquanto você se troca.’ Ele sentou na cama ao lado de Diego e eu concordei entrando no banheiro. Vesti a camisola, que era um blusão nem tão comprido assim, prendi o cabelo num rabo de cavalo, escovei os dentes e saí do banheiro. Observei Arthur deitado na cama, com a cabeça apoiada no braço e sorrindo enquanto olhava o filho dormir. Encostei na porta do banheiro e cruzei os braços sorrindo.
‘Ele parece um anjo assim, né?’ Falei baixo e Arthur se assustou um pouco, ainda não tinha notado minha presença de volta no quarto.
‘Parece.’ Ele respondeu sorrindo. ‘Bom, eu vou voltar lá pra baixo e deixar vocês dormirem.’ Ele sorriu se levantando e eu concordei balançando a cabeça. ‘Boa noite, Lu!’ Ele me deu um beijo na testa.
‘Boa noite.’ Falei baixo vendo-o sair do quarto e fechar a porta. Deitei na cama com cuidado ao lado de Diego e beijei sua testa sorrindo. ‘Boa noite, meu anjinho.’ Falei boba e fechei os olhos dormindo minutos depois.
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