terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Capítulo 10 – Os opostos se distraem, os dispostos se atraem

Arthur, Pedro e Chay passaram em suas casas pra tomar banho, trocar de roupa e pegar alguns objetos pessoais, tipo escova de dente, pasta, etc e tal.
Depois voltaram pra passar a noite na casa de Micael e assim proteger as meninas assustadas. Colocaram dois colchões de casal no chão da sala entre os dois sofás pra todo mundo dormir ali e ninguém ficar com medo.
- Vai caber todo mundo aí? – Mel perguntou de um jeito meio fresco apontando pros colchões.
- Claro que cabe! Mas se você preferir... Pode ir dormir sozinha lá no seu quarto. –Micael brincou e ela negou com a cabeça freneticamente na mesma hora.
Ficou um colchão para três garotos e o outro para as três garotas, sendo que Arthur dormiu num sofá e Mel no outro.
Já passava das quatro horas da madrugada quando Mel acordou num susto porque pensou ter visto uma luz azul piscando na sala. Ela ergueu o tronco e ficou por um tempo sentada no sofá, observando os outros dormirem nos colchões. ‘Foi estranho! Quando eu abri o olho foi como se uma luz que estivesse iluminando a sala inteira e tivesse se apagado bem rápido! Deve ter sido algum delírio meu, afinal eu tava dormindo né... Vou tomar água. Ah não! Antes preciso ir fazer xixi!’ Pensando nisso, ela se levantou e foi ao banheiro do primeiro andar. Enquanto ela estava lá dentro, Arthur também acordou e foi direto à cozinha.
- OMG! – Mel se assustou ao entrar na cozinha e ver alguem lá. Mas se acalmou logo, ao perceber que era só o Arthur – você me assustou, não sabia que estava acordado!
- Ah, eu acordei de repente com sede... E você, tá conseguindo dormir ou ainda tá com medo da casa monstro?
Mel riu um pouco com a pergunta e comentou sobre o incidente da luz que ela pensou ter visto. Os dois conversavam baixinho agora, mas Lua já havia acordado com os gritos iniciais de Mel ao se assustar com Arthur. Continuou deitada no colchão de olhos fechados, apenas ouvindo os sussurros e algumas risadinhas.


- Eu também já fui acordado por uma luz... – Arthur contava depois de ouvir a história de Mel.
- Hum?
- É, os meninos estavam tirando fotos de mim dormindo porque eu tava babando!
- Ergh! – os dois riram e Arthur continuou contando as brincadeiras idiotas que eles gostavam de fazer quando alguém estava dormindo no ponto. Ouvindo as várias risadas baixinhas vindas da cozinha, Lua passou a imaginar o que eles estavam fazendo lá sozinhos, no escuro, e ficou triste sentindo o estômago pesado. ‘Ah, ele não muda mesmo...’ Pensou e depois abriu os olhos um pouco pra olhar os dois sofás e confirmar se eram eles mesmo. Após ver o sofá atrás dela vazio, Lua percebeu que o braço de Ray “repousava” sobre seu estômago! ‘Bem que eu tava sentindo um peso extra aqui...’ Pensou enquanto retirava o braço de cima dela com cuidado e voltou a fechar os olhos, dormindo tão rapidamente que nem viu se demorou para Arthur e Mel retornarem. E isso não demorou muito, logo voltaram, mas agora Arthur foi ao banheiro antes de se deitar. Mel estava se ajeitando no sofá, quando olha de relance para a janela e vê num cantinho uma cabeça que some rapidamente. Ela fica paralisada com as mãos na boca e os olhos esbugalhados. Arthur retorna do banheiro e estala os dedos na frente do rosto dela.
- Hey, você tá bem?
- Arthur – ela olhou pra ele ainda com os olhos asustados e a voz falha.
- O que foi? – ele perguntou num tom de voz calmo e baixo.
- Tinha alguém na janela!
- Espera. – ele então foi observar, não viu nada e voltou.
- Não vi ninguém Mel.
- Mas tinha Arthur! Olha só... Eu tava aqui e quando bati o olho na janela, assim sem querer, eu vi o formato de uma cabeça ali! Aí a “cabeça” se abaixou rapidinho...
- Eu não sei se era isso, mas a única coisa que eu vi foi um cachorro aí na calçada. – ele deu de ombros e beijou a testa da garota, que parecia estar se acalmando agora. Os dois voltaram a dormir em seus sofás.


Amanheceu e nossas crianças foram acordadas logo cedo pelo sol que entrava pelo grande vitrô da sala e batia naqueles rostinhos lindos.
- É muito cedo dude! Que dia é hoje mesmo? Acho que vou pra casa pra continuar dormindo na minha caminha!
- Primeiro: Hoje é quinta! E segundo: Deixa de ser manhoso Aguiar! – Micael jogou seu travesseiro nele – Aproveita que já tá todo mundo aqui e vamos ensaiar de uma vez!
- É cara... O Rick ligou ontem no meu celular, perguntou se a gente tem ensaiado ou se a gente criou alguma música nova.
- Como que é mesmo o nome disso que a gente ganhou por um mês? Pensei que se chamasse F-É-R-I-A-S! – Pedro falou ainda deitado e esticando os braços.
- A gente tá de férias dos shows, mas isso não significa que a gente tem que ficar sem tocar ou criar músicas! Nem sei como conseguimos um mês inteiro de férias, geralmente são duas semanas... – Micael falava já dobrando seu cobertor.
- To vendo que meu priminho acordou trabalhador hoje, hein! – Lua se sentou e esticou os braços pra cima, levantando o cabelo junto. Arthur, que estava logo atrás dela deitado no sofá, não pôde deixar de ver a tatuagem em sua nuca...


Play Arthur’s Flash Back


- Arthur, eu acho que to me arrependendo! – Lua ficou com uma expressão inexplicável no rosto ao dar de cara com as agulhas.
- Relaxa Lu! Esse desenho é pequeno, vai ser rápido! E eu to aqui com você, pra fazer a mesma tatuagem! Vamos enfrentar juntos, você vai ver! – eu falei cheio de ânimo e acho que consegui encorajá-la um pouco. A Lua é medrosa de tudo, mas está sendo obrigada a fazer uma tatuagem!
- Maldita a hora que fui apostar com você Arthur! – ela bufou e eu ri da cara bravinha e bonitinha que ela fazia.
- Lua! Olha bem pra mim, – segurei no ombro dela e a olhei firme – a gente vai passar por essa juntos! Vamos tatuar o mesmo desenho! Você na nuca e eu no peito. Daqui alguns anos, isso vai ser uma puta recordação que teremos um do outro! Não acha?
- Não tem um jeito menos dolorido pra gente se lembrar um do outro?
- Não vai doer tanto Lua, eu garanto! Pode começar moço... – olhei pro tatuador e ele mandou Lua se deitar de bruços e tirar o cabelo do pescoço. Dei minha mão pra ela e antes mesmo de começar a ser tatuada, ela já apertava como se estivesse num parto! Achei que fosse ficar sem mão naquele dia.


Stop Arthur’s Flash Back


Arthur permaneceu no sofá por um tempo, lembrando do dia que levou Lua pra fazer a tatuagem que ele acabara de ver em seu pescoço.
Com exceção dele, todos se levantaram para ocupar os... (leia brigar pelos) banheiros da casa.


PÓC-PÓC [n/a: sim, esse é o som de batidas na porta hushuahush]
- Errr... Eu não sei quem é que tá ai dentro, mas já tá ai há vinte minutos e tipo eu preciso MESMO fazer xi... – Sophia interrompeu a fala quando viu quem abriu a porta – Micael!
- Oi Soph. – os dois ficaram se olhando e ela até esqueceu o que ia fazer no banheiro.
- Oi... – respondeu e olhou pra baixo.
- Tudo bem?
- Uhum. Você?
- Também... – ele fez uma pausa, queria muito perguntar uma coisa, mas não sabia se era a hora. – Você ainda não contou por que tava chorando no telefone.
- Ahn... – ela engoliu seco, não queria falar do Chris pra ele – Nada, eu só descobri que não passo de uma perdedora, só isso... – afirmou parecendo calma.
- Hum... E o que foi que você perdeu para ser uma perdedora?
- Meu tempo... Talvez, algumas chances de ser feliz também. Mas pra que quer saber?
- Por nada... Pode usar o banheiro, você queria fazer um Micael, não é?
- O quê?!
- Quando eu abri a porta, você dizia quero fazer...
- Ah tá! – Soph lembrou do que estava falando – Não seja bobo Micael! – e deu um tapinha no braço dele.


O dia passou rápido e agradável. Os meninos ensaiaram na presença das garotas, que assistiram comendo pipoca, se divertindo e babando neles, claro!


Nesse clima de diversão o tempo simplesmente vôa! Dez dias passaram voando e já foi tempo suficiente para acontecer algumas coisas! Felizmente não tiveram mais sustos com a casa da frente. Dois dias depois da chegada de Sophia, na sexta, foram todos ao cinema. Ela ficou com Chay e isso resultou numa senhora fossa para Micael, por ainda gostar dela. Começou a escrever músicas com mensagens melosas e emos como “Dói ter que saber que eu não fui nada pra você” etc e tal... Mas percebeu que Soph ficava estranha e quieta quando todos começavam a ensinuar que ele pegava a prima, Lu. Essa foi a luz que acendeu no fim do túnel de Micael. Começou a tornar mais freqüentes aquelas ‘brincadeirinhas inocentes’ com Lua, que tanto davam o que falar. Quando estavam na presença de todos, ele sempre fazia alguma coisa com ela, bagunçar o cabelo, fazer cócegas, carregá-la montada em suas costas pela casa, dizer que vão se casar se por acaso ficarem encalhados, dar mordidinhas... E a cada uma dessas ceninhas felizes, todo mundo tinha mais certeza que eles tinham alguma coisa mesmo. As reações de Sophia diante dessas situações eram positivas para Micael, porque ela ficava emburrada! Mas não foi só Sophia que sentiu seus pulmões pegando fogo de raiva ao ver Micael e Lu dividindo os fones de ouvido, ela sentada no colo dele e os dois cantando cantando Fall Out Boy “Sitting out dances on the wall, trying to forget everything that isn't you, I'm not going home alone cause I don't do too weeeell!” na maior animação. Arthur também se sentia numa chuva de canivetes a cada situação dessas. ‘Você tá ferrado Aguiar! Você ainda gosta dela, depois de tantos anos ainda sente um sei-lá-o-quê por ela que te machuca toda vez que a vê com o Micael. Parece que eu voltei aos tempos de escola, quando ela dizia que tava com alguém era assim mesmo que eu me sentia. Um completo loser. Droga...’ Arthur pensava enquanto caminhava pela rua com as mãos no bolso do moletom e olhando pro chão. Até que se topou com uma pessoa que andava em sentido contrário, também distraída.
- Ai Arthur, desculpa!
- Eu que peço desculpas Mel! Eu tava viajando!
- É... Eu também! – ela respondeu e sorriu fraco.
- Você tava indo pra onde?
- Adivinha!
- Sorveteria?
- Uhum!
- Nem tá tão calor, mas eu já percebi que você não vive sem uma sorveteria, não é?
- Yep! Quer ir comigo?
- Ahn, é que eu tava pensando em ir ao parque logo ali... Por que você não vem comigo até lá?
- Bom... Lá vai ter algum tiozinho vendendo sorvete?
- Suponho que sim.
- Então ta! – Mel abriu um sorriso maior e começou a caminhar junto com ele. Foram andando quietos, provavelmente continuaram cada um em suas viagens durante o caminho. Quando chegaram, escolheram alguma árvore e sentaram na sombra que ela fazia.


Lua, Ray e Micael estavam largados no sofá assistindo algum episódio repetido de Desperate Housewives com aquelas caras de tédio-pós-almoço... A campainha tocou e Rayana foi animada atender, mesmo sem saber quem era.
- Oi Pedro!
- Oi Ray! – Pedro falou e foi cumprimentá-la com um beijo na bochecha, mas por um “acidente” o beijo saiu quase na boca, o que os deixou um tanto sem graça.
- Err... Quer entrar? O Micael tá ali, jogado no sofá.
- Não, deixa ele jogado lá mesmo! Na verdade era você que eu queria ver... Quer dar uma volta?
- Yep! Vou calçar um tênis, espera um pouco!
- Ok... – Ray subiu as escadas e Pedro foi entrando na casa, chegou na sala e viu Micael e Lua numa briga besta pelo controle da TV. – Hey crianças! Não briguem!
- Oi Pedro! Você não morre tão cedo, a Ray tava falando de você agora há pouco! – Micael afirmou e Lua o olhou de canto de olho.
- Sério? O que ela falava?
- Que ela te acha gostoso, mas você tem mau hálito e CC! MUAHAAHAHAH
- Micael seu tosco! – Lu lhe deu um tapa na cabeça – é mentira Pedro, a gente nem tava conversando nada...
- Lu... Você não sabe brincar! – Micael lançava o ‘olhar mortal’ pra ela – E me dá esse controle vai, tá me dando nos nervos essas donas de casa que estão mal comidas porque seus maridos são impotentes!
Pedro rolou os olhos vendo que os dois voltavam a disputar pelo precioso controle, viu que Ray já vinha e sorriu meio bobo quando ela se aproximou e segurou a mão dele.
- CRIANÇAS! – ela gritou fazendo Lua e Micael pararem como estátuas – Mamãe e papai vão sair, não derrubem a casa amores!
- Hey Micael, acho que nós somos adotados! Nossos pais são da nossa idade!
- Ohhh não! Eu sou adotado! Eu sempre desconfiei que sou muito bonito pra ser filho dele – Micael começou a gritar como se estivesse chorando com as mãos no rosto.
- Vamos Pedro, esses dois parece que estão com quatro anos hoje!
- Humpf... Já é um progresso, o Micael geralmente parece que tem dois! – Assim que Pedro falou, Micael o acertou com uma almofada. Ray o puxou e os dois saíram correndo antes que Micael jogasse mais almofadas, ele é dono de uma ótima pontaria!
- Ainda bem que você me salvou desses dois! – Ray falou sorrindo enquanto Pedro encostava a porta da casa de Micael.
- Quero só ver quando eles casarem... – Pedro comentou, os dois se entreolharam e deram risadas.


xxx


- Sabe... To te achando meio pra baixo esses dias, não sei se é impressão minha. – Arthur começou o assunto e Mel o olhou. Ela carregava um olhar meio vazio.
- Não é impressão...
- O que aconteceu? Estamos de férias! Era pra estar pulando, não acha?
- Acho! Mas não posso fazer nada Arthur... É mais forte que eu.
- Se estiver precisando de alguem pra desabafar, estou aqui.
- Isso é o que eu mais preciso! Tá tudo guardado aqui e eu sinto que posso explodir a qualquer momento se continuar assim.
- Pode falar pra mim! Mas eu cobro por minuto, tá bom?
- Certo! Contanto que não conte pra ninguém...
- Ok! Pode começar.
- Tá bom, vou ser direta. É o Chay.
- Hmm, por que será que eu já disconfiava?!
- Pois é… E ainda dizem que os homens nunca percebem essas coisas!
- Ai querida, você não se toca que eu não sou totalmente homem?! – Arthur desmunhecou uma das mãos fazendo Mel virar o rosto pra cima e gargalhar.
- É, que bom, eu sempre quis ter um amigo gay mesmo!
- Então você já arranjou quatro, fofa!
- Não me faça rir Aguiar!
- Ahn puxa… Pensei que era pra isso mesmo que eu tava aqui!
- É, verdade! Obrigada então por me fazer rir um pouco… Ultimamente isso tem sido difícil! Principalmente quando todo mundo se reúne e eu tenho que engolir seco assistindo o Chay e a Soph se comendo num canto da sala.
- Isso é mesmo difícil dude! Ver quem você gosta com outra pessoa... Parece que vai sair fogo dos olhos, mas como isso não é possível, saem só as lágrimas!
- É Arthur, e o pior é que a minha raiva maior não é nem dela, que é minha amiga mas não desconfia que eu gosto do Chay, nem dele também porque ele não tem culpa de se sentir atraído por ela. A maior raiva que eu tenho é de mim mesma. Desde o final do ano passado, quando eu conheci o Chay, não tirei mais ele da minha cabeça! E eu fui besta porque mesmo percebendo que eu sempre acabava pensando nele de alguma forma, não admiti isso nem pra mim mesma. Não contei pra ninguém o que eu sentia e foi isso que acabou comigo! – Mel falava enquanto já dava pra ver o brilho de pequenas lágrimas se formando em seus olhos. Arthur ouvia atento e se identificou com a situação toda.
- Te entendo... Te entendo até mais do que eu gostaria!
- Hum? Como assim?
- Eu também dormi no ponto! Só que o meu caso é um pouco mais grave que o seu, porque eu vacilei por anos!
- Sério, você passou ANOS gostando de alguem sem dizer? – Mel olhou pra ele realmente surpresa com isso.
- Yep.
- Eu conheço?
- Sim.
- É a Lua?
- Uhum.
- Xiii...
- Eu sei!
- É que ela e o Micael... Err... Você sabe né! É o que se comenta...
- Pois é, e é por isso que eu to mal também.
- Mas por que você deixou passar tanto tempo Arthur?
- Porque eu sou um loser. Eu sabia que levar um fora dela ia me deixar péssimo e ainda por cima acabar com a amizade. Mas de que adiantou se eu também ficava péssimo do mesmo jeito se soubesse que ela tava com alguem?!
- Estudaram juntos da sétima até o colegial, não é?
- Uhum.
- Durante todo esse tempo, nenhum dos dois demonstrava nada um pro outro? Se a gente gosta de alguém com quem tem um contato todo dia fica difícil, praticamente impossível esconder por tanto tempo, não é?
- É, mas eu acho que o quê eu fazia a deixava com medo de falar... Eu era o maior galinha da escola! – Arthur falou e sorriu em seguida se lembrando dos bons tempos.
- E por que você era assim?
- Bom, era legal vai! Tinha muitas gatas naquela escola! – recebeu o olhar de reprovação de Mel e voltou a falar depois – Mas principalmente, eu queria ver se a Lua tinha alguma reação com isso.
- E ela tinha?
- Se tinha escondia muito bem. Perdi a conta de quantas vezes ela me viu com outras meninas e não fez nada.
- Ah mas... O quê você queria que ela fizesse? Desse um ataque? Vocês nem tinham nada, iam chamá-la de louca!
- Sei, mas que pelo menos ficasse sem querer falar comigo ou um pouco brava... mas não, ela aparecia lá na escola no dia seguinte como se nada tivesse acontecido.
- Certo... Então vocês ficaram nessa enrolação por mais de dois anos?
- Uhum, mas pelo menos a gente foi os melhores amigos um pro outro, isso eu garanto!
- Tem certeza que nunca rolou nada? Porque se você gosta, a amizade mesmo que ótima, não é o suficiente! Precisa de muito mais que isso, precisa agarrar aquela pessoa, dizer que ama, enfim... Não sei como vocês se seguraram!
- Isso a gente fazia, só que de brincadeira... Teve um dia que a gente tava sentado na escada, eu tava bem perto dela e eu quase ia beijá-la mas tocou o sinal! Depois daquele dia, se eu não tivesse recebido a notícia que meus pais iam mudar eu ia correr atrás sabe!
- Quer dizer que justo quando você decidiu sair de cima do muro, seus pais resolveram mudar?
- É dude... Foi foda! Aí eu resolvi que foi melhor assim, não tinha ficado com ela ainda e decidi que não queria mais porque sentir falta de uma coisa que você nunca teve é menos doloroso do que sentir falta de algo que você já teve e não tem mais.
- Ounn... Mas então vocês nunca se pegaram?
- É, na minha festa de despedia a gente dançou e se beijou depois.
- Hum... Que legal! E depois? Como se resolveram com a coisa da mudança?
- Não resolvemos. Fingi que eu tava bêbado e consequentemente não ia me lembrar de nada depois e nem sabia o que tava fazendo!
- Cruzes Arthur! Por que fez isso?
- Sei lá, acho que pra fugir dessa parte de lidar com a distância e tudo mais!
- Acho que isso pegou mal...
- Ah, que seja... Cansei desse papo! Hey, você não queria tomar sorvete? Olha o tiozinho passando. – os dois se levantaram do chão e caminharam em direção ao homem com carrinho de sorvete.


xxx


Chay e Sophia almoçavam no shopping depois de terem feito compras. Soph ria de todas as coisas bestas que Chay fazia e acabava por imitá-lo. Resultado? Realiza... Duas criaturas bebendo coca-cola e arrotando à mesa, no meio de uma praça de alimentação lotada! Todos olhavam pra eles, mas não estavam nem aí.
- Pô Sophia, assim não tem graça! As meninas costumam ficar tão bravas com isso!
- Hey! – Sophia olhou pra ele com um sorrisinho maléfico, ela adorava simular brigas – Quer que eu fique brava? Você ainda não me viu irritada, EU VIRO O DEMÔNIO! – ela disse com a voz já se alterando de mentirinha, claro, e Chay percebeu, entrando na brincadeira
- Como assim? Do que é que você tá falando? Quantas vezes eu vou precisar repetir que não te traí com a Tracy?! – ele falou um pouco alto e fazendo gestos espalhafatosos.
- Ah! Mas o quê aquela periguete tava fazendo com seu celular hoje de manhã, hein?!
- V-você me ligou hoje de manhã?
- Liguei! E aí, vai me explicar ou não, Reginaldo Carlos?
- Erm... É que eu achei que tinha perdido ele! – Chay respondeu se prendendo pra não rir do nome que acabou de ser chamado.
- Sim, agora vai me dizer que aquela VACA da Tracy achou pra você, não é?! – ela também fazia gestos escandalosos.
- Acredita em mim, Fátima Teresa! – Chay jogou seu olhar meigo de macaquinho pedindo bananas e Soph abaixou a cabeça rindo de seu novo nome. A essa altura, todos já olhavam pra eles.
- Só se você MATAR aquela Tracy pra mim e me trouxer o coração dela até AMANHÃ! – é, as pessoas das mesas ao redor se assustaram um pouquinho!
- Claro! Minha bruxa da Branca-de-Neve!
- Ounn, meu anãozinho!
- Hey! Eu to longe de ser um anão, tá bom!
- Eu sei, seu bobo... É só pra entrar no clima!
Eles se levantaram e foram pro estacionamento, ainda sob os olhares de algumas pessoas.
- Fingir essas briguinhas é engraçado! Viu a cara das pessoas?! – Soph falava enxugando algumas lágrimas resultantes do ataque de riso enquanto caminhavam em direção ao carro de Chay.
- E aposto que todos acreditaram, pelo menos no começo...
- É! Mas é melhor a gente sair logo daqui, acho que a qualquer momento pode chegar uma ambulância pra nos levar pro hospício!
- AHAHAHA! Tomara que não apareça nenhuma Tracy sem o coração e assassinada até amanhã pela cidade! – Chay falou sem pensar e Soph riu mais.
- Sem o coração E assassinada? – ela repetia em meio a risadas – Se vai estar sem o coração, como pode não estar assassinada, cabeça de pica-pau?!
- Ah, você já entendeu... – ele sacudiu as mãos no ar – Mas o importante é que não apareca nenhuma Tracy morta!
- AHAM! Por acaso, você conhece alguma?
- Nop. E você?
- Também não... – os dois riram e entraram no carro.
- Hey, por que cabeça de pica-pau? – ele se virou pra ela depois de um tempo.
- Ah, sei lá! Inventei na hora! – ela deu de ombros e ele gargalhou.


xxx


- Tá bom o seu sorvete de pêssego?
- Totalmente! E o seu de melância?
- Mais que totalmente! – Arthur falou e Mel riu, os dois caminhavam devagar pelo parque e já estavam no segundo sorvete. Até que Mel soltou um gritinho do nada e parou de andar.
- O que foi?
- Meu olho Arthur! Caiu alguma coisa nele!
- Espera, deixa eu ver. Consegue abrir? – Arthur se aproximou e ela abriu o olho que tinha alguma coisa e estava lacrimejando.
- Tá vendo alguma coisa? O que caiu aí Arthur?
- É só um cílio. Ele está prestes a cair e por isso às vezes entra no seu olho, mas acho que se você fechar o olho ao mesmo tempo que arquea as sobrancelhas, eu posso tirar. – Mel assim fez e Arthur retirou o cabelinho solto com bastante cuidado. Mel abriu seu olho de novo e aqueles olhos tão perfeitos e castanhos que pareciam obra de Photoshop a encaravam muito de perto. Arthur se aproximou um pouco mais e pôde sentir seu nariz encostando no dela, as respirações já se misturavam um pouco fortes e nenhum dos dois sabia o que estava fazendo direito. Ambos se sentiam carentes e queriam aquilo, então foram se deixando levar, logo se entregaram a um beijo gelado e com gosto de frutas, as suas línguas já estavam explorando a boca do outro. Arthur a segurou pela cintura com um dos braços, pois o outro segurava o sorvete, Mel pousou a mão sobre um dos ombros dele, já que também segurava seu sorvete com a outra mão.


- Olha Ray, um carinha vendendo sorvete, você quer?
- Quero! Será que ele tem de... – Rayana parou de falar e parou o olhar num ponto fixo.
- De... de... de quê? – Pedro não percebeu que ela estava vendo alguma coisa que fez seu queixo quase chegar até o chão.
- Ali, Pedro! – Rayana, impaciente, colocou as duas mãos no rosto de Pedro, virando-o para a direção que ela também olhava.
- Wow! Não é o Arthur ali?
- Uhum! E ele tá com a Mel, dude!
- Nossa... O negócio deve estar bom ali, hun?! E eu que tinha a impressão que ele era a fim da Lu...
- Pra você ver! – Rayana falou e os dois sorriram, depois começaram a fitar os pés. Vendo a cena de Arthur com Mel, Pedro queria beijar Ray ali e imediatamente. Mas Ray foi mais rápida e cortou a aproximação dele.
- Err... É melhor a gente ir, eu... To começando a sentir frio. – ela falou quando um vento gelado bateu no rosto, apesar do solzinho que fazia.
- Tudo bem, vamos. – Pedro passou um braço pelo ombro dela e os dois foram caminhando sem pressa.


- Obrigada pela volta, gostei de conhecer o bairro – Ray falou quando chegaram na porta da casa do Micael.
- Disponha! Sou o melhor guia turístico de Bedford! – Pedro estufou o peito
- Menos, Pedro! Se é o melhor eu não sei, mas é meu preferido!
‘Droga, não sei por que que eu to tão sem jeito... Ninguém nunca me deixou assim antes’ Pedro pensava.
‘Pronto, minhas mãos estão geladas mas estão suando! Dá pra entender umas coisas assim? Tem umas mil borboletinhas aqui dentro, se eu sorrir um pouco mais elas podem sair a qualquer momento!’ Ray também pensava enquanto sorria pro menino à sua frente, até que ele chamou sua atenção ao dizer algo.
- Olha, uma borboleta pousou no seu ombro!
Uma borboleta toda branquinha pousou no ombro de Rayana, que apenas olhou e sorriu.
- Deve ter saído do meu estômago! – ela pensou alto.
- O quê?
- Não, nada... – sorriu disfarçando o que acabara de falar.
Pedro se aproximou dela e encostou o dedo indicador no ombro onde a borboleta ainda estava. Ela passou do ombro da garota para o dedo de Pedro, ele então foi movendo a mão bem devagar até parar com o dedo esticado e a borboleta sobre ele, entre os dois rostos que estavam próximos. Fixaram seus olhares na borboleta, que logo saiu voando e deixando o casal a milímetros de distância um do outro. Os dois sorriram se olhando nos olhos, se aproximando mais.
- Acho que ela tava de vela... – Pedro sussurou já com seu nariz encostado ao de Ray, que estremeceu e apenas balançou a cabeça devagar numa afirmação. Fecharam os olhos, encostaram seus lábios e Rayana, sentindo os lábios macios de Pedro, tirou a conclusão em pensamento que poderia ficar ali pelo resto da vida colando sua boca na dele. Pedro pôs as mãos de leve sobre cada lado da cintura da garota e contornou o desenho da boca dela com a língua, ela abriu a boca para as duas se encontrarem lá dentro e logo uma já fazia massagem na outra. Os dois sentiam os corações acelerar mais a cada movimento, como se isso fosse possível! Ray fazia carinhos na nuca dele, o que o fez envolver seus braços na cintura dela, puxando-a pra mais perto. Eles pareciam um só agora, de tão juntinhos que estavam! E passaram vários minutos assim, até partirem o beijo sorrindo. Estavam ofegantes e os lábios vermelhos, Pedro se aproximou de novo e mordeu o lábio inferior de Ray, que sorriu com a boca presa à dele.
- Te adoro! – ele sussurrou soltando-a.
- Eu também! – ela falou no mesmo tom e rindo.
- Até mais, moça das borboletas! – ele foi se afastando com passos pra trás, de mãos dadas com ela.
- Até mais ver Cassiano! – ela sorriu de novo e as mãos dela se soltaram das dele. Quando ela pensou que ele já ia, Pedro voltou rápido pra dar mais um selinho nela e saiu correndo e pulando em seguida. Rayana ria, mas na verdade era isso mesmo que ela queria fazer também de tão feliz que aquele simples beijo havia deixado-a. Ficou observando Pedro se afastar até ele ficar pequenininho, depois entrou em casa e foi direto pro quarto, não viu nem ouviu ninguém, como se ela não estivesse nesse mundo.
Lua e Micael, que estavam sentandos no sofá se entreolharam. Primeiro viram pela janela, Pedro passar pulando e sorrindo feito um bambi desgovernado, depois Rayana entra com aquela cara de quem tava no paraíso e vai direto pro quarto. Adivinharam o que devia ter acontecido e começaram a rir, felizes pelos amigos.
- Bom, pelo menos alguns conseguem se acertar por aqui, né! – Lua falou ao terminar de rir.
- É... Bom pra eles!
- Uhum... E você só não se acerta também por que não quer.
- Hum? Tá falando de quê?
- Não se faça de besta seu mongol! Eu percebo a cara que você fica toda vez que vê Sophia com Chay!
- Ai puxa! Você descobriu meu segredo! Não conta pra ninguém que eu gosto do Chay! – Micael forçou uma voz feminina pra brincar e fugir do assunto.
- Sério Micael, quantas vezes eu vou ter que dizer que você não pode fugir assim? Você gosta da Soph, e fica aí sofrendo, cheio de ciúmes!
- Eu não tenho ciúme de Soph nenhuma! Não agüento mais você insistindo com isso.
- Você devia me agradecer por eu tentar abrir seus olhos e querer te ver feliz!
- Se você quer me ver feliz então pára de falar que eu gosto dela, até por que ela tá com meu MELHOR AMIGO!
- Não tem nada sério entre eles Micael, você sabe que é só pegação! Soph tá sofrendo, ela precisava de alguém que a ajudasse a esquecer o que ela passou com Chris. Você sabe, já te falei da história...
- Contou porque quis, pensou que eu fosse ficar com pena? Ela mereceu por se envolver com aquele professorzinho!
- Não! Num foi pra você ter pena nem nada... É que eu acho que essa é a sua chance, você não devia deixar passar!
- Chance pra quê criatura?! Já falei que não tem nada entre eu e ela, nunca ia dar certo!
- Por acaso já tentou?
- Não. – mentiu sem olhar pra Lu.
- Então tenta droga! É melhor do que ficar aí com essa cara de mal comido por causa do ciúme que sente toda vez que ela passa por você com o Chay ou com qualquer outro do lado!
- Eu... não... TENHO CIÚME NENHUM PORRA!
- TEM SIM CARALHO, E TÁ ME USANDO PRA FAZER CIÚME NELA TAMBÉM! [n/a: Crianças discutindo... tsc tsc tsc...]
- D-De onde você tirou isso?
- É óbvio, né Micael? Tá certo que a gente sempre foi próximo, mas ultimamente você tá mais grudado em mim do que minha sombra e principalmente quando ela está por perto!
- Paranóia sua! E quer saber?! RETIRA TUDO O QUE DISSE AGORA!
- NÃO RETIRO PORQUE ESSA É A VERDADE, TÁ BOM?! E JÁ QUE VOCÊ QUER ASSIM, FICA AÍ NA MERDA!


xxx


Enquanto isso, Arthur e Mel conversavam ainda no parque. Depois do beijo inesperado, Arthur ficou sem jeito.
- Err... Desculpa Mel!
- Imagina Arthur, foi bom. Não me arrependo.
- Eu também não, mas é que alguns minutos atrás eu tava falando de outra menina todo triste e de repente beijo você, o que vai pensar de mim?!
- O mesmo que você vai pensar de mim! Eu também tava falando de outro menino, não é? E você beija bem...
- Você também! – Arthur a interrompeu.
- Obrigada! Mas como eu ia dizendo, apesar de nós beijarmos bem, isso não apaga o que sentimos por aqueles idiotas! – ela falou e Arthur riu concordando em seguida.
- É, infelizmente não apaga nem um pouquinho!
- A gente tava carente por causa daqueles dois bobos...
- Uhum, olha só o que eles fazem com a gente, nos obrigaram a fazer esse sacrifício!
- Né! Mas isso não vai mais se repetir! Até por que, você é gay, certo?!
- Oh é! Tinha até esquecido! O Micael não pode saber que eu te beijei mocréia, senão ele te expulsa da casa dele e termina comigo! – Arthur voltou com as imitações de bicha afetada e os dois riram. Depois deram as mãos e foram voltando para a casa do Micael. Mesmo em pouco tempo, conseguiram construir uma boa amizade, principalmente depois dessa tarde, sentiam que podiam contar tudo um pro outro.

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