quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

47º Capitulo - Addicted

Faltava pouco mais de uma hora para o embarque, mas a atendente do balcão de check in avisou que alguns vôos estavam atrasados por causa da chuva forte. Me xinguei mentalmente por não ter levado nenhum livro ou revista para ler, e resolvi ir até a livraria tentar encontrar algo que me distraísse, e distraísse Diego também. 

O aeroporto estava vazio, algumas pessoas andavam por ali esperando seus vôos, ou esperando por alguém. Desejei que meu avião não atrasasse tanto, sentia meu estômago revirando, além da dor no peito que continuava latejando insistentemente.
Entrei na livraria com Diego e ele soltou da minha mão indo para a sessão de livros infantis. Dirigi-me até a estante de revistas e passei os olhos por algumas capas, a maioria era de fofoca.
Constatei que nada ali me interessava ou seria bom o suficiente para me entreter e me fazer esquecer o que eu estava deixando pra trás. Fui até as enormes estantes com livros, passei pela de ficção, drama, romance até que cheguei aos livros de comédia. Um livro rosa claro chamou minha atenção. A capa com algumas sacolas de compras ilustradas e o grande titulo "Os Delírios de Consumo de Becky Bloom" era convidativa. Li rapidamente a sinopse, o que me deixou com ainda mais vontade de ler o livro, o segurei enquanto procurava por algum outro que também me parecesse interessante, mas nenhum me chamou tanta atenção.
Fui até a área infantil encontrando Diego folheando um livro ilustrado e rindo.
'Eu quero!' Ele sorriu apontando o livro.
'Dá pra mamãe ir pagar, então.' Ele estendeu o livro pra mim e fomos até o balcão da loja.
Menos de cinco minutos depois saímos de lá. Caminhamos um pouco pelo aeroporto, até acharmos uma Starbucks e eu sentir o típico cheiro de café. Havia algumas mesas e cadeiras do lado de fora, deixei Diego sentado ali e fui pegar alguma coisa para comermos e bebermos.

Me distrai lendo o livro e quando me dei conta faltavam apenas 40 minutos para o vôo, a qualquer momento a voz feminina ecoaria pelo aeroporto anunciando a primeira chamada. Me levantei indo até o balcão da Starbucks e paguei rapidamente a conta, sorrindo simpática para a atendente.
'Vamos, Diego?' O chamei vendo-o desviar o olhar do livro. 'Pega sua mochila, meu amor, tá quase na hora do nosso vôo.' Sorri e ele concordou botando a pequena mochila nas costas.
Caminhamos de mãos dadas até o salão de embarque, ali havia 7 portões. Conferi por qual embarcaríamos e me sentei próxima a uma placa com o enorme numero 4. Sentei abrindo o livro novamente, enquanto Diego apenas observava as pessoas ao redor. O salão não estava muito cheio, talvez devido à hora.
Mais uma vez os minutos passaram sem que eu percebesse. Vi um dos atendentes da companhia aérea se aproximar da porta de vidro e checar algumas coisas. Guardei meu livro na bolsa sabendo que a qualquer momento ele anunciaria o embarque. Enquanto ajeitava meu livro dentro da bolsa para que ela não ficasse estufada pensei ter ouvido alguém me chamar e olhei ao redor um pouco assustada. Meu coração apertou novamente com força e eu levei a mão rapidamente ao peito. Diego me olhou sem entender e eu forcei um sorriso o tranqüilizando.
Respirei fundo e peguei os documentos necessários para o embarque. O atendente se aproximou do pequeno microfone, e segundos antes dele anunciar o embarque ouvi novamente alguém me chamar, mas dessa vez parecia mais real. Eu sabia exatamente de quem era aquela voz, e aquilo me fez ter certeza que eu já estava começando a ter alucinações e precisava sair logo dali.
'Vamos, meu amor?' Sufoquei olhando pra Diego e o peguei pela mão para apressá-lo.
'Lua!!' Novamente um grito e eu senti meus joelhos cederem quase me levando ao chão. A única coisa que eu queria era sair logo dali, aquela voz... eu não podia lembrar da voz dele logo agora.
O senhor que estava na minha frente passou pela porta de vidro e eu suspirei pesadamente agradecendo.
'Lu!! Não, espera!!' A voz de Arthur me pareceu tão real que eu olhei para trás apenas mostrar a minha consciência que ela estava me pregando uma peça. Mas não foi isso que aconteceu.
'Pai!' Diego gritou sorrindo.
A voz de Arthur me pareceu tão real, porque ela era de fato real. Ele estava ali, no meio do salão de embarque tentando chegar até mim, mas sendo impedindo por dois policiais que o seguravam, talvez por ele ter entrado ali sem apresentar a passagem.
'Lua, por favor. Não faz isso!' Ele conseguiu dar alguns passos em direção a mim. A mão de Diego soltou a minha e ele correu em direção ao pai pulando em seu colo.
'Senhora?' O atendente tentou chamar minha atenção, mas a voz dele parecia estar longe demais.
'Espera, me solta!' Arthur gritou quando os policiais tentaram o arrastar pra fora dali. 'A mulher da minha vida tá indo embora, droga!' Sua voz ficou ainda mais alta. Ele botou Diego no chão e o segurou pela mão.
Ficamos nos encarando durante alguns segundos em silêncio. Eu sentia todos os olhares daquele salão sobre nós dois, e de uma forma totalmente inconsciente, eu me movi em direção a ele. Pelo menos essa é a única explicação de como eu fui parar a apenas alguns metros de distância dele, sem nem ao menos sentir minhas pernas me levarem até lá.
'Lu, por favor.' Os olhos dele imploravam tanto quanto sua voz. 'Não faz isso.' Os policiais atrás dele, um deles segurando um de seus braços, se entreolharam. 'Eu posso suportar qualquer coisa, eu consegui suportar ver você chorar sabendo que era por minha causa, mesmo que tenha sido por uma conclusão precipitada, mas eu simplesmente não vou suportar viver sem você... e sem o Diego.' Olhei rapidamente pra Diego ainda segurando a mão do pai e me olhando.
'Eu... não posso.' Ouvi minha voz fraca se quebrando. Abri a boca pra falar mais alguma coisa, mas não consegui emitir som algum.
'Pode, claro que pode!' Arthur tentou mais uma vez se aproximar de mim, mas o policial o impediu ainda segurando forte em seu braço. 'Você sabe que eu nunca seria capaz de fazer aquilo com você. Não importa se fosse com a Jenny ou com qualquer outra mulher, fosse ela a mais bonita, a mais gostosa, ou a mais perfeita, porque você sabe que eu sou completamente e absurdamente apaixonado por você.' Ele respirou fundo. 'Eu posso nunca ter dito isso, assim explicitamente, mas você sabe que é verdade! Eu sei que você sabe!' Ele falou com firmeza olhando em meus olhos, e eu senti meus joelhos ficarem cada vez mais fracos.
'Eu... não posso.' Repeti a frase estúpida novamente. Eu não conseguia pensar em nada pra falar, nada que pudesse negá-lo. Porque a verdade era que eu sabia, eu sempre soube que ele era apaixonado por mim e eu não me importava que ele nunca tivesse realmente dito aquilo com todas as letras, porque ele sempre deixou claro com cada gesto, com cada sorriso, com cada olhar.
'Lu, pelo amor de Deus, pára de falar que você não pode. Você sabe que pode, e mais do que isso, você quer! Seu lugar é aqui, seus amigos estão aqui, sua faculdade tá aqui, seu emprego tá aqui, você construiu uma vida aqui.' Ele diminuiu o tom de voz. 'E você dividiu essa vida comigo.' Pela primeira vez ele desviou o olhar do meu e olhou para o chão suspirando. 'Eu posso não ser o namorado perfeito, ou o pai perfeito. Posso não ser o cara que você sempre quis que eu fosse...' Antes que ele pudesse continuar, ouvi minha própria voz o interromper.
'Não...' Falei baixo fechando meus olhos. 'Você é, e sempre foi um pai perfeito. A prova tá aí.' Sorri fraco apontando pra Diego que riu mesmo sem entender direito o que estava se passando. 'E você é sim o cara que eu sempre quis que fosse, não importa se por diversas vezes você é imaturo e irresponsável. A verdade é que você sempre esteve lá pra mim, você tava sempre do meu lado, você aturou meus ataques, fossem eles de ciúmes ou de tpm. Você fez eu me sentir segura e fez eu me sentir a mulher mais sortuda do mundo por ter um cara como você do meu lado.' Passei a mão por meu rosto molhado. 'Você me deu meu bem mais precioso.' Olhei novamente pra Diego e sorri. 'E você ficou comigo quando eu mais precisei. Você me ajudou a criar o nosso filho quando na verdade eu achei que você ia fingir que nem ele e nem eu nunca existimos.' Mordi meu lábios para controlar um soluço e levei minha mão até a boca.
'Lu...' Arthur soltou a mão de Diego e o policial soltou seu braço deixando-o se aproximar de mim. Ele pegou minha mão enquanto eu olhava seu rosto suplicante. 'Eu incrivelmente esqueci em casa o objeto que me trouxe até esse aeroporto.' Ele riu descrente. 'Mas eu ainda sei exatamente o que eu vim fazer aqui.' Ele segurou minha mão entre as suas e se afastou um pouco me olhando nos olhos.
Observei Arthur se abaixar um pouco e senti meu coração acelerar tanto que meu peito doeu. Ele se ajoelhou na minha frente ainda segurando minha mão e eu arregalei meus olhos.
'Lua Blanco.' Ele falou formalmente e eu prendi a respiração. 'Eu esqueci a aliança em casa...' Ele riu levemente. 'Mas você quer casar comigo?' O salão inteiro parecia ter prendido a respiração, de modo que a única coisa que se ouvia era meu choro que já tinha ficado descontrolado.
Lentamente eu me ajoelhei na frente dele, vendo seus olhos analisarem meu rosto cuidadosamente. Sua mão ainda segurava a minha e eu entrelacei nossos dedos.
'Eu seria maluca se não aceitasse casar como cara pelo qual eu sou completamente apaixonada.' Falei quase num sussurro e vi Arthur abrir um sorriso quase maior que o próprio rosto. Sorri junto com ele e fechei os olhos quando ele levou suas mãos até meu rosto e acariciou minha bochecha.
'Você é a mulher mais linda desse mundo, e é do seu lado que eu quero ficar até meu ultimo suspiro.' Ele sussurrou encostando a testa na minha e eu abri meus olhos encontrando os seus que me encaravam com intensidade.
'Eu amo você.' As três palavras que durante anos ficaram presas, saíram com tamanha naturalidade que eu me espantei. Era como se eu tivesse sido programada pra dizer aquilo, foi simples e sincero e conseguiu resumir todos os meus sentimentos por ele.
Arthur sorriu antes de encostar os lábios nos meus, me dando a certeza de que tudo ficaria bem, e tudo estava exatamente como sempre deveria ter sido.

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