quarta-feira, 25 de abril de 2012

Capítulo 24 – Os ex-malas

Naquele mesmo dia, Lua retirou a caixa dali. Ela estava inteira, mas seu material se tornou flácido e manchado de preto em alguns pontos. Quanto às fotos, algumas ficaram com pedaços inteiros... Foram os pedaços que Arthur viu e se sentiu derrotado.

Depois que Lua pôs o que restou da caixa pra ser levada junto com o lixo, percebeu que sua mãe havia chegado, pois ela sempre entrava conversando alto. Ela falava alto, quase sempre. Lua ia sentir muita falta disso.
- Oi Lu, que bom que está acordada – Julie entrou no quarto da filha. Lua estava sentada na cama esperando mesmo que ela entrasse.
- Oi mãe, tudo bem com os assuntos da viagem?
- Tudo. Mas e a sua viagem? Tomou uma decisão?
- Tomei mãe, eu quero ir. – Lua mordeu o lábio vendo Julie sentar na frente dela pensativa.
- Você já é maior e o que decidir está decidido. Apesar de não achar que seja uma boa idéia...
- Ah mãe, se for ruim eu volto.
- Você fala como se fosse tudo muito simples Lua. Mas pelo menos você vai estar com seu pai.
- Vai dar tudo certo! Não fique preocupada comigo! – Lua abriu um sorriso confiante, mas diminuiu quando viu que a mãe continuava séria – Que foi?
- Tem outra coisa que eu quero ter certeza.
- Diz...
A mãe respirou fundo, parecia estar catando as palavras.
- Filhinha, eu vivi o bastante, quer dizer, não tanto assim porque não sou velha! Mas acho que já conheço muito bem os comportamentos femininos.
- Onde você quer chegar? Não entendi.
- A natureza, minha filha. Ela comete muitos clichês e a gente sabe quando ela está agindo.
Julie pegou uma das mãos dela e a trouxe pra perto de si. Lua continuou boiando na conversa.
- Lua, você me contaria se estivesse grávida. Não contaria?
- QUE É ISSO?! – Lua tomou um susto. Entender a conversa da mãe foi como dar de cara no chão.
- É isso que eu quero te perguntar. Eu sou sua mãe, você pode falar. Se você não confiar em mim, não vejo em quem você poderia confiar!
- Bom, se eu estiver... – por algum motivo, Lua sentiu dificuldade pra dizer a palavra – grávida, nem eu mesma sei! De onde você tirou isso?
- Eu sou médica, trabalho em hospital...
- Você não é ginecologista. – Lua cortou a fala da mãe olhando na direção do próprio ombro direito. Não estava gostando do papo, na verdade achou uma idéia absurda.
- Eu vejo muitas mulheres em começo de gestação pra lá e pra cá o dia inteiro. Acho que sei reconhecer uma grávida, mesmo que de algumas semanas.
- O que te levou a pensar isso? O que tem de errado comigo?
- Não é nada de errado. São coisas que acontecem, você já começou a dormir mais do que o normal. Você bebeu cerveja e isso não te fez bem, dá pra ver na sua pele. Na verdade, beber não faz bem em circunstância alguma, mas para uma grávida é potencialmente perigoso. E por último, mas não menos notável, está mais emotiva e chorona do que nunca.
- Como sabe de tudo isso? – Lua perguntou em voz baixa, acuada. Não tinha como negar esses sintomas.
- Eu sou sua mãe! Eu posso passar mais tempo no hospital do que em casa, mas eu reparo em você, ok? Você é o que eu tenho de mais importante e se estiver esperando um filho, não vou deixar que viaje de forma alguma. Não vou mandar minha filha grávida pra outro país!
- Mãe, isso não tem chance de ser verdade. Tudo que eu passei esses dias... Eu tenho motivos pra não estar radiante, pulando por aí.
- Mas eu não disse que você não estava radiante! – Julie pegou uma mexa do cabelo de Lua e ajeitou atrás da orelha – Você já deve ter ouvido falar que as grávidas ficam com um brilho todo especial nos olhos e eu vejo isso no seu olhar.
- Credo mãe, parece boba! – Lua cruzou os braços e desviou o olhar para o chão.
- Me diga Lua. Me diga agora, com quem e quando foi a sua última relação?
- Mãe! Eu...
- Sem enrolações.
- Tem algumas semanas aí. – Lua falou ainda olhando pra baixo e tentando embolar as palavras, mas elas saíram em bom som – Arthur Aguiar.
- Ah, claro... Tinha que ser aquele seu amigo que vinha aqui em casa quando vocês estavam mais novos! Bem que eu perguntava se vocês não tinham nada a mais e a resposta era sempre a mesma: "não, mãe". Eu até gosto dele, mas achava que ele fosse no mínimo esperto! Por que não se protegeram?
- Nos protegemos mãe! É por isso que eu digo que não estou esperando coisa alguma!
- Quero que vá ao médico. Não compre passagem nenhuma pro Canadá nem pra canto algum enquanto não tiver certeza. – Julie comunicou sua decisão com a voz firme e ia sair do quarto.
- MAS EU TENHO CERTEZA!
- Como?
- Mãe, eu só não entrei em pânico com essas suas hipóteses porque eu tenho certeza do que digo.
- Então me diz pra eu ter certeza também. Filha eu só não quero que você viaje grávida e tenha o meu neto longe daqui.
- Mãe se controla! – Lua já falava com um certo humor na voz – Eu estava morrendo de cólica ontem à noite. Minha visita mensal já chegou esse mês. E eu também já disse que me protejo sempre. Não tem com o que se preocupar!
Ela levantou sorrindo e abraçou a mãe. Nunca teve tanta satisfação ao dizer que estava menstruada.
- Tem certeza que veio mesmo?
- Tenho.
- Então ta. POR QUE NÃO ME DISSE LOGO PRA EVITAR QUE EU PAGASSE MICO?! – Julie gritou e ficou rindo. Estava aliviada, mas também gostaria que a filha estivesse grávida e assim impediria a viagem.
- Você num tava deixando eu falar. – Lua fez beicinho.
- Vou confessar que eu inventei todo esse papo, queria jogar um verde e quem sabe fosse verdade... Eu queria que você estivesse grávida. Acho que era um pretexto pra não te deixar viajar.
- Eu entendo você e prometo visitar sempre que for possível!

Julie. 42 anos e uma mãe muito moderna, compreensiva e meio maluca às vezes. Fica explicada toda a personalidade de Lua quando conhecemos sua mãe. Ela sempre foi muito apegada à filha e com certeza é meio difícil soltá-la... Costumava ser só as duas depois do divórcio e antes de Robert aparecer!
Com a mãe convencida de que não há gravidez nem outros motivos que impeçam a mudança, agora só restou entrar em ritmo de viagem. Ainda no mesmo dia, com a chegada da noite, Lua recebeu uma ligação do primo e passou horas ao telefone com ele. Primeiro a mãe, agora Micael... Segundo familiar do dia querendo fazê-la desistir. Mas para ela, era como se já estivesse com um pé no outro continente. Às vezes as pessoas tem uma vontade cega de mudar a vida e mal sabem elas que estão sujeitas a caírem nos mesmos erros e armadilhas. A vontade de Lua podia ser vista como uma luz de farol alto. Daquelas que não nos deixam enxergar mais nada. Ela conversou com o primo e quando ele se deu por vencido, até admitiu que talvez fosse uma boa experiência e desejou que ela fosse feliz. Lua sorriu involuntariamente com esses votos porque era a única coisa que ela queria!
Lua então comprou sua passagem para quinta-feira da outra semana, sendo que uma semana antes, na quarta foi a sua mãe quem viajou. Ela partiu para sua viagem de quinze dias com o marido sabendo que quando voltasse a filha não estaria mais lá. Teve vontade de adiar a viagem com Robert, mas isso seria injusto com ele depois de terem planejado tudo juntos. Então na quarta Robert e Julie embarcaram pra Austrália. Durante os outros dias da semana, as meninas iam às vezes visitar seus namorados, mas Lua sempre ficava em casa e não via a hora de estar livre disso. Os meninos tiveram várias sessões de fotos, gravações de programas pra TV e rádio, entrevistas pra revistas teen... Estavam todos empolgados e morar ali definitivamente ajudava a cumprir os horários dos compromissos de trabalho!
O fim de semana chegou e como haviam combinado, sábado seria o dia da festa. Lua encarou também como uma festa de despedida, já que na próxima quinta estaria num avião. Convidou alguns amigos seus, inclusive os da faculdade, queria se despedir de todo mundo.
Durante à tarde os garotos ficaram num estúdio, gravando um programa que vai ao ar nas noites de quarta-feira. Enquanto isso, Sophia estava na casa de Ray, Mel e Lu, se arrumando pra ficarem poderosas. Ray fez um penteado em Soph, Lu usou o vestido azul que Mel lhe deu antes das férias, Mel maquiou Ray e Lu emprestou um par de brincos à Soph, o mesmo que emprestou para a festa de despedida do Arthur anos atrás.
Ficaram lindas, a casa estava linda e também espaçosa. Foram removidos da sala objetos frágeis e com valor sentimental (ou não)... Sofás afastados para os cantos e lá fora, várias luzes em volta da piscina decoravam o ambiente.

Já eram quase onze quando o motivo, ou melhor, os quatro motivos pra festa chegaram. As pessoas presentes soltaram gritinhos erguendo seus copos de cerveja pra anunciar a presença deles.
- MAGAFAFO! – Melanie gritou, estava em pé numa cadeira e já um pouquinho alcoolizada. Chay riu porque ela não acertou pronunciar mafagafo e caminhou até ela. As outras três garotas se aproximaram também e pareciam mais sóbrias do que Melanie...
- O que vocês deram pra minha picurruxa suas perversas? – Chay falava com Mel molenga em seus braços.
- Cara! Você tem que parar de chamar ela de picurruxa na frente dos outros! Nem parece o Chay que a gente conhece... – Pedro colocou a mão sobre o ombro dele e balançou a cabeça, Chay sacudiu o braço para que Pedro tirasse a mão do ombro dele e voltou a olhar pras meninas fazendo cara de bravo.
- Quem mandou você não estar aqui pra tomar conta dela? – Rayana pôs as mãos na cintura.
- Por que demoraram tanto? A festa começou sem vocês... – Sophia cruzou os braços e ficou encarando os meninos. Lua e Arthur ficaram calados porque estavam ocupados demais se olhando. Arthur estava lindo com uma camisa polo listrada, calça jeans preta e um tênis Nike também preto.
- Perdemos muita coisa? – Micael perguntou e elas negaram com a cabeça – Ah, é que nós tivemos um pequeno atraso. – e olhou pra Arthur, que ficou vermelho e sem graça.
- Que atraso? – Melanie perguntou curiosa interrompendo o beijo que dava em Chay.
- Ah, é que o Arthur precisou de... – Chay ia falando, mas foi cortado por Pedro.
- Precisou de um tempo a mais pra ficar conversando com a ajudante de palco e atrasou a gente! – Disse e olhou pra Chay de canto de olho. Arthur ficou ainda mais sem graça e sem saber pra onde olhar, Lua forçava um sorriso amarelo de limão azedo e logo saiu dizendo que ia pegar uma bebida. ‘Preciso de algo forte!’ ela pensava enquanto se afastava do grupo.
- Cara, você quase ia contar a surpresa! – Micael sussurrou cutucando Chay.
- Mas era surpresa? – Chay encarou os amigos com cara de ‘hã’?
- Claro! Que graça tem ela saber agora? – Pedro lhe deu um empurrão leve no braço. Arthur ficou com as mãos no bolso e olhando para todos os lados possíveis enquanto as outras meninas o encaravam.
- Arthur, que surpresa é essa? – Sophia se aproximou dele estreitando os olhos e Rayana junto.
- Não vou falar nada agora porque não vai adiantar! Amanhã, quem sabe...
- Ai Arthur! Não faz isso com a gente! – Rayana apelou um pouquinho.
- É algo que envolve você e a Lua fazendo as pazes? Não vamos contar pra ela, pode confiar! – Sophia contribuiu mais na apelação. Melanie continuou quieta, estava se sentindo zonza.
- Ai meu deus! O que a Lua vai fazer? – Arthur olhou desesperado pra um canto da sala e as meninas se viraram pra olhar. Quando viraram de novo ele não estava mais lá, se afastou rindo antes de receber mais perguntas.
Ele se sentia animado, inspirado e com esperanças, a vida dele ia se consertar agora ou nunca! Foi a sua última jogada e se não desse certo ele ia se conformar que tinha de ser assim. Durante a festa, não se aproximou de Lu e apenas a observava de longe. Várias garotas chegavam todo instante pra conversar ou pra tirar uma foto e ele sempre via quando Lua olhava pra eles e logo depois fingia que não estava olhando, fazendo uma cara de desdém totalmente falsa. Isso fazia Arthur sorrir por dentro porque finalmente ela estava demonstrando que se importava com ele.

A música rolava animada e mais uma vez Pedro, Rayana, Micael e Sophia estavam largados no sofá se acabando de rir por alguma besteira que Micael fazia. Ele e Pedro começaram de repente uma competição de arrotos e Soph queria participar, mas Ray a cutucou.
- Eii... Ta vendo aquela pessoa ali? – Rayana apontou com a cabeça pra um cara de agasalho marrom encostado na parede e de cabeça baixa.
- To vendo, na verdade to sacando ele faz um tempo, mas não sei quem é!
- Não dá pra ver, o rosto dele ta todo coberto! – Rayana apertou os olhos, mas o rosto dele estava mesmo meio impossível de ver porque ele estava de lado e com o capuz do agasalho abaixado.
- Pedro! – Micael bateu com a mão no braço do outro, que soltava um arroto gigante – Nossas namoradas estão comentando sobre os garotos da festa assim na nossa frente enquanto arrotamos feito idiotas e nós não vamos fazer nada?
- Nós vamos sim... Nós vamos terminar com elas e continuar arrotando! – ele deu um soquinho no ar e Micael lhe deu um pedala. As duas meninas olhavam pra eles rindo.
- Não estamos comentando os garotos da festa! – Rayana riu e foi sentar mais perto de Pedro.
- E se estivesse, qual o problema? – Sophia pôs as mãos na cintura e Micael fez algumas cócegas nela.
- Na verdade estávamos sim, comentando sobre um cara que achamos estranho porque não conseguimos reconhecer! – Rayana explicou pra Pedro enquanto Micael e Sophia começavam a se agarrar.
- Cadê o zé ruela? – Pedro perguntou divertido e Rayana o apontou com o olhar.
- Acha que eu devo me aproximar pra ver quem é? – Pedro ouviu Rayana perguntar e tirou os olhos do rapaz para encará-la.
- De forma alguma! Se tem uma coisa que eu aprendi foi deixar os encapuzados esquisitos e irreconhecíveis em paz quando os vejo numa festa!
- É, tem razão... – ela concordou e deu um sorriso fraco, desviando o olhar meio pra baixo e lembrando daquele dia marcante em que Pedro esteve prestes a morrer.
- Hey – ele tocou o queixo dela e fez com que levantasse o rosto. Seu olhar se encontrou com o dela e ele ainda sentia borboletas com isso.
- Desculpe, não deu pra evitar a lembrança daquele dia. – os olhos dela estavam úmidos e Pedro a abraçou forte.
- Esquece isso, tudo aquilo já acabou! – ele falou no ouvido de Rayana e depois se soltou do abraço, ficando com o rosto em frente ao dela.
- Tive tanto medo quando te vi lá em cima! – ela pôs a mão na bochecha dele e o menino fechou os olhos sentindo o toque, depois os dois encostaram as testas.
- Não se preocupe, não vai ser tão fácil pra você se livrar de mim! – ele sussurrou e a beijou em seguida.
- Nunca mais me assuste assim de novo – ela falou com os lábios colados aos dele.

- Eiii! – Chay berrou massageando o ombro direito porque havia se trombado forte com alguém.
- Desculpa cara, foi sem querer!
- Não foi nada. Machucou? – Chay viu que ele pressionava o dedo mínimo.
- Não, acho que eu devo ter dado um mau jeito no dedo quando me bati com você.
- Ahn, pode ter quebrado, cara.
- Acho que não é pra tanto... De qualquer forma eu já estava indo mesmo, desculpa aí de novo! – o rapaz deu leves batidas no outro ombro de Chay e foi embora. Melanie chegava com um Martini na mão e só pôde ver o cara de costas.
- Quem era o do capuz?
- Não sei, ele se trombou comigo.
- E ele te machucou?
- Não.
- Ahn... Será que eu conheço?
- Provavelmente não... – Chay deu de ombros – Tem tanta gente nessa festa, duvido você conhecer todos eles! – e a segurou pela cintura sorrindo, ela riu e agarrou o pescoço dele com uma das mãos. Depois pegou um gelo dos que estavam dentro do copo que segurava e passou pelo contorno dos lábios dele, que estremeceu e sugou o cubinho pra dentro da boca, beijando Mel em seguida.

O rapaz de capuz ainda passou por Lua antes de sair, mas ela estava de costas conversando com alguns amigos do seu curso de publicidade.
- Naah, o professor de design gráfico é uma biba, com certeza! – um garoto magro, de olhos verdes, cabelo preto e trejeitos meio afeminados falava.
- Como tem tanta certeza Eric? Andou conferindo a biba? – Lua estreitou o olhar pra ele e mais dois garotos e duas garotas riram. De repente Lua parou de rir e ficou estátua, depois se virou pra trás rapidamente.
- O que foi mulher? – a amiga ao lado dela perguntou.
- Nada... eu... pensei ter sentido um perfume familiar. – ela respondeu franzindo a testa.
Olhou pra trás de novo e não conseguiu ver ninguém por causa das outras pessoas atravessando na frente. ‘Devo estar sonhando, vou parar de beber!’ ela pensou e voltou ao papo com os colegas.
O rapaz de capuz ficou parado na porta da casa. Estava prestes a sair, mas repensou no caso, tirou o capuz da cabeça e deu uma leve sacudida nos cabelos deixando-os arrumados e bagunçados ao mesmo tempo. Depois deu meia-volta e entrou novamente. Peter Cooby is back.
Após um tempo conversando com os colegas de faculdade, Lua sentiu que precisava deixá-los se espalharem, pra poderem conhecer o resto das pessoas da festa. Havia gente que nem ela conhecia, mas não estava querendo conhecer ninguém. Muito pelo contrário. Ela foi até a cozinha porque estava bebendo de estômago vazio e isso sempre a deixa vulnerável ao desequilíbrio. Em outras palavras, tonta demais pra qualquer coisa e a festa termina mais cedo. Ninguém quer isto, certo? Certo.
Ao chegar no cômodo se depara com duas pessoas. Uma delas, ela não queria ver. A outra, ela já não via faz tempo.
- Mat? É você?
O rapaz de olhos azuis (tão azuis que com certeza já inspiraram alguém a fazer poesia com eles) e rosto absurdamente bem desenhado conversava distraído com Arthur. E os dois olharam em direção à porta, onde Lua estava parada e logo começou a se aproximar.
- Lu! – ele sorriu. Lua já havia esquecido o brilho daquele sorriso em conjunto com o par de olhos poéticos. – Me desculpe, eu nem sabia que estava rolando uma festa! Só vim aqui pra te visitar.
- Err, foi bom te ver por aqui cara. – Arthur deu uns tapinhas no braço dele – Vou deixar que vocês conversem.
Arthur saiu de cabeça baixa e se isso fosse um desenho animado poderíamos ver que os olhos de Lua foram saltitando atrás dele, acompanhando-o pra onde fosse. Depois de um pequeno suspiro ela despertou e olhou pra frente. Matthew estava lá. E ainda sorria.
- Que nada Matthew! Aproveita e fica na festa!
- O tempo foi generoso com você!
- Qual é Mat! Quem vê pensa que passou uma eternidade! – Lua lhe deu um abraço um tanto frouxo e sem ânimo. Sentia-se cansada. Como se Arthur tivesse levado com ele os olhos e a vitalidade dela ao sair da cozinha encarando o chão e sem olhar pra ela.
- Mesmo assim o tempo foi generoso!
- Por falar em tempo, o que você ta fazendo aqui? Digo, faz um tempo que não te vejo em canto algum! – ela se deixou contagiar pelo sorriso dele que nunca cessava. Desde que o conheceu ele era assim. Incrível Arthur ter entregue a foto onde estavam os três juntos no parque de diversões, como se estivesse prevendo a reaparição do colega! Ela sempre lembrava daquele dia com carinho, embora saiba que ficar com o Matthew não era o que ela queria.
- Como assim, não me viu em canto algum? E aquele dia que nos batemos na rua?
- Na rua? Eu te vi na rua?
- Ah, claro! Eu imaginei que você não tivesse me visto, nem olhou pra mim! Parecia bem distraída inclusive...
- Ah sim, acho que já sei que dia foi esse. Eu tinha mesmo umas decisões pra tomar.
- E já tomou? – Matt perguntou e tomou um gole de sua latinha de Coca-Cola. Um fato curioso sobre Matthew é que ele nunca acostumou com o sabor das bebidas com álcool, detesta ficar bêbado.
- Sim! Graças aos céus.
- Parece satisfeita com sua decisão... Posso saber do que se trata?
- É que eu vou morar com meu pai, no Canadá.
Após ouvir Canadá, Mat quase se engasgou com a Coca.
- Você vai morar onde?
- Canadá. Você está bem?
- Sim é que eu fiquei um tanto surpreso! Eu moro lá.
- Sério?! Nossa... O que eu posso dizer? Juro que não estou te seguindo!
- Eu fui pra lá quando terminei o colegial. Vim aqui apenas passar uns dias, mas já estou voltando. Aliás, quando você viaja?
- Próxima quinta.
- Podemos viajar juntos?
Matt estava sorrindo perigosamente e ela só balançou a cabeça afirmando. Seria ótimo viajar, e viajar com ele seria perfeito.

Algum tempo depois, Matthew foi embora dizendo que só havia passado para vê-la. Quando já passava um pouco das duas da madrugada, Lady Gaga tocava a todo volume animando todos com Love Game. Um garoto no auge do efeito alcoólico subiu no trampolim da piscina e começou a tirar a roupa lá em cima, mas caiu tentando tirar as calças... Começou a se afogar lá e sua namorada morrendo de vergonha empurrou o irmão na água para que tirasse o cunhado. Todas as pessoas da festa estavam agora reunidas no jardim pra ficar assistindo o emocionante resgate.
- Quem são esses? – Eric, o colega de faculdade estava com Lua ao seu lado.
- A garota e o irmão dela são vizinhos, o namorado é americano.
Eric fez uma cara de ‘Anh... saquei’ e depois foi procurar mais cerveja. Lua parou pra ficar pasmando outra vez, agora sim ela tinha certeza de estar sentindo o perfume do ex-namorado! Perfume esse que ela mesma deu de presente. Virou-se pra trás rapidamente e deu de cara com Peter. Acenou com a cabeça, deu um meio sorriso e voltou a virar pra frente. Logo as pessoas começaram a dispersar e Lua teve uma outra visão desagradável, Delilah estava ali no meio das pessoas. ‘Duas visões apavorantes assim em menos de um minuto?! O que mais falta agora? Freddy Krueger?! Será que eu to na casa dos horrores?’ ela sacudiu a cabeça e resolveu pegar mais bebida, sentiu que precisaria estar bêbada pra agüentar essa noite!

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- AHAHAH, mas de onde você tirou isso, cara?
- Sei lá, achava que vocês deviam gostar muito de McDonald’s! – um rapaz amigo de Rayana conversava com Arthur, até que Lilah chegou por trás e pôs uma mão no ombro dele, que se virou rapidamente.
- Delilah? Como chegou aqui?
- Qual é Arthur, isso é o de menos... Não vai me apresentar o seu amigo? – Delilah esticou o pescoço e Arthur voltou a olhar pro cara que conversava, mas não lembrava o nome dele.
- Err... Não se incomodem comigo! Eu tenho que procurar a Ray, ela ficou de me apresentar uma gata hoje! – o rapaz se afastou dos dois e Arthur voltou a encarar Delilah.
- O que está fazendo por aqui? Veio visitar a Lua? – ele sorriu sarcástico e Lua estava assistindo. De longe parecia um sorriso não-sarcástico e isso a fez começar a bater um dos pés no chão.
- Na verdade eu fiquei sabendo que haveria alguns convidados especiais nessa festa, sabe o McFLY? A banda que tem o meu guitarrista preferido... – falando isso ela se aproximou e deslizou uma das mãos sobre o peito dele. Lua virou rápido a cabeça pra outra direção antes que pudesse ver mais coisas. ‘Relaxa Lua, não perca a linha, você tem classe. 1,2,3,4,5,6...’ ela olhou pra baixo e em seguida pôde ver dois pés parando ao lado dos dela.
- Oi!
- Oi Pete.
- Tudo bem com você? – ele entortou um pouco o rosto, se aproximando dela e colocando o cabelo dela pra trás da orelha. Foi a vez de Arthur bater o olhar na cena e sentir o sangue ferver. Segurou Delilah pelos ombros e a afastou com delicadeza. Nem mesmo ele sabia explicar como conseguiu ter movimentos leves e delicados se por dentro estava semelhante a um vulcão.
- Eu to legal. – Lua respondeu sem olhar Pete, ele pegou o queixo dela e a fez olhar pra ele.
- Não é o que parece. Sentiu saudades de mim?
- Não tive tempo, hum...
- Vamos, não precisa guardar rancor de mim! Aquilo tudo que eu disse na carta e os vídeos era mentira.
- Mentira? Então você é mais estúpido do que minhas amigas disseram que era.
- Não me trate assim, eu só vim porque senti a sua falta, eu queria te ver de novo.
- Já viu, não viu? Está vendo? Olhe bem... Eu deixo que observe cada detalhe e depois pode ir.
- Eu sei que você deve ter ficado mal, mas tudo o que eu disse e fiz foi pro nosso bem, eu não queria continuar com um namoro à distância entende, eu tive medo de te trair, e de você me trair também, mesmo que isso não tivesse acontecido.
- Não era mais fácil falar a verdade? Chegar e dizer ‘oee, eu não quero mais continuar com isso’? Era só uma frase! Mas ao invés disso você preferiu dizer um monte de outras coisas. Contou uma história gigantesca, com você e uma garota lá que eu nem sei se existe mesmo porque agora você já me confundiu. – Lua continuava a falar sem olhar pra ele e seu olhar se cruzou com o de Arthur, que estava sentado numa mesinha redonda e Delilah ao seu lado.
- Errei mesmo, to admitindo já. Eu só queria matar a saudade, ficar com você hoje... – ele passou um braço pela cintura dela e a fez ficar de frente pra ele.
- Eu desculpo você, não to mais chateada nem nada, por mim seriamos até amigos, mas ficar já não rola!
- Por que não? É só por alguns dias! Semana que vem eu já to voltando pra Oxford. Só vim pra cá por causa do meu velho que fez uma cirurgia e pediu que eu ficasse cuidando da Surrey.
Surrey é a fazenda do pai de Peter. É aberta para visitação, passeios escolares e etc...
- Desejo melhoras ao seu pai. – Lua falou inclinando a cabeça pra trás porque Peter estava muito perto dela.
Arthur ainda assistia e estava conseguindo dar mais de três goles de cerveja por segundo, de tanto desespero que aquela cena estava lhe causando. Delilah falava algumas coisas, mas ele só balançava a cabeça afirmando. Se ela perguntasse se ele era gay provavelmente ele diria que sim naquela hora. ‘Eu vou mostrar para aquele Perdedor Cooby que ele ta mexendo com a garota errada! Não, espera... Deixa eu tomar mais um gole disso aqui antes!’ Arthur tomava coragem e então se levantou e foi tentando caminhar com os passos mais firmes que conseguia dar enquanto cerrava os punhos e respirava acelerado.
- Você ainda não respondeu por que não quer ficar comigo!
- Quer mesmo ouvir essa resposta?
- Pode falar, toda a verdade!
- Você foi um patético e por isso não me atrai mais. Desculpe, mas foi você quem procurou e sabe que quando eu bebo um pouco já falo tudo na lata. – Lua e Peter conversavam bem próximos e Arthur caminhava feito um touro em direção ao casal. Podia jurar que estava vendo tudo vermelho à sua frente. Quando chegou, simplesmente pôs uma mão em cada ombro e os afastou. Lua se assustou de início, mas agradeceu mentalmente por isso.
- Hey cara! O que ta acontecend... Arthur?!
- Oi Peter! – Arthur deu o sorriso mais falso que pôde e Peter olhou imediatamente pra Lua com um olhar de quem diz agora eu to entendendo.
- Err... Arthur, ninguém te ensinou que não pode chegar e ir separando pessoas assim? Você já bebeu bastante e eu acho que está na hora de sentar um pouco e ficar quietinho num canto esperando o álcool sair da sua corrente sanguínea! – Lua disparou a falar sem parar, ficou com medo de repente porque os dois começaram a se olhar feito cachorros de rua.
- Pensei que nunca mais fosse te ver por aqui Aguiar.
- Engraçado, pensei o mesmo de você, Cooby. – Arthur cutucou Peter no peito e Lua apertou os olhos como quem pensa fodeeeeu! Ela sabe que o ex-namorado detesta ser cutucado e numa situação dessas era só o que ele precisava pra partir pra cima do cutucador, no caso Arthur Aguiar!
- Não me cutuca seu mcgay! – empurrou Arthur pra trás pelos ombros. Aguiar sorriu sarcástico.
- Você bem que preferia que eu fosse gay, assim você não precisaria ter medo de perder a namorada pra mim!
- Arthur, porra... – Lua sussurrou, queria que ele parasse de provocar porque Peter é o valentão que jogava futebol na escola.

So What começava a tocar e as batidas estavam fazendo a cabeça de Arthur latejar um pouco. Peter sorriu meio de lado e Arthur só teve tempo de ver um punho fechado voando na direção de seu rosto. Conseguiu desviar e em seguida o acertou no estômago. O soco fez Peter perder um pouco o ar e dar vários passos pra trás. Algumas pessoas já paravam pra observá-los...
Peter se recuperou e veio correndo com a cabeça abaixada na direção de Arthur, ele o acertou em cheio feito uma bola de boliche e os dois caíram no chão à metros de distância.

...Na na na na na na na
I wanna start a fight! (quero começar uma briga)


Peter ficou por cima e acertou um soco que pegou no queixo de Arthur, que por sua vez tampava e empurrava todo o rosto de Peter com a palma de uma das mãos, enquanto com a outra lhe dava pequenos murros na lateral do corpo.
- Briga! Briga! Briga! Briga! – Vários desocupados da vida formaram uma roda em volta deles pra assistir.
- MAS QUE INFERNO! ALGUÉM SEPARA ESSES DOIS! – Lua gritava com as mãos na cabeça.
- Tinha que ser o ogro do teu namorado. Ele vai acabar com o rostinho do meu Arthur. – Lua ouviu essa frase e quando olhou pro lado viu Delilah de braços cruzados.
- Vai tirar o seu Arthur de lá! Quem sabe o Peter não aproveita e te bate também!
- Hey mal educada! Não me admira o seu namorado ser desse jeito!
- E eu não me admiro que você COLECIONE EX-namorados por aí, pois todos te largam!
Delilah abriu a boca olhando pra ela, depois cerrou os lábios e ergueu a mão pra dar um tapa, mas Lua segurou seu pulso.
- BATE SE TU É HOMEM! – Lua gritou e soltou o pulso de Lilah, que ficou por um tempo com uma expressão confusa.

Na na na na na na na
We're all gonna get in a fight! (todos vamos entrar numa briga)


Aproveitando a oportunidade, Lua lhe acertou um tapão na cara. Então Delilah voou com aquelas unhas enormes pra cima do cabelo dela. Lua gritava com aquelas unhas cravadas em seu coro cabeludo, até que teve a idéia de socar a barriga dela. Deu uns três socos e no último concentrou toda a força que veio ao lembrar de quando a viu com Arthur. Delilah caiu no chão e Lua montou por cima dela, acertou um soco com o punho esquerdo e outro com o direito naquela cara. Estava tomada de ódio como nunca esteve e o resultado disso foi o nariz de Lilah escorrendo sangue. Logo, as duas duplas estavam se esfolando no meio da roda. Arthur rolou pelo chão com Peter e ficou por cima, distribuiu no rosto dele todos os socos que pôde à exemplo de Lua. Peter espalmou as mãos em seu tórax e empurrou Arthur com força, fazendo-o sair de cima dele e cair de novo com a bunda no chão. Os dois levantaram rapidamente e já estavam preparados pra recomeçar tudo, eles pulavam agitados com os punhos à frente do rosto. Lua e Delilah rolavam na grama disputando pra ficar por cima. Lua viu que Lilah ia ficar por cima dessa vez e a empurrou. As duas ficaram de pé.

So so what? (e daí?)
I'm still a rock star (eu ainda sou uma estrela do rock)
I got my rock moves... (tenho meus golpes de rock)


Elas ficaram se encarando um pouco enquanto respiravam ofegantes com as roupas sujas. Delilah passou o braço pelo nariz e limpou o sangue do rosto. Ela se aproximou de Lua, pisou em seu pé e saiu correndo em seguida! Lua abriu a boca surpresa com tamanha infantilidade e disparou atrás dela, as duas correram feito loucas por todo o quintal, passaram por Arthur no momento em que ele derrubava Pete em cima de uma mesa e vários docinhos voaram pra todos os lados. Arthur pegou alguns deles e esmagou na cara do adversário, deixando-o completamente empapusado... Lua alcançou Lilah, pegou seu braço e o segurou pra cima atrás das costas dela. As duas estavam próximas de uma mesa, então Lua olhou para a poncheira de cristal de sua mãe e viu uma luzinha acender. Guiou Delilah até a mesa, segurou os cabelos dela com a mão que estava livre e enfiou a cabeça dela no ponche de frutas. ‘Puxa cara! Sonhei tanto com uma coisa assim nos últimos tempos!’ ela soltou um sorriso besta-aliviado e tirou Delilah de lá quando ela começou a ficar sem ar.

Ba da da da da da (pfft!)

Enquanto isso, Rayana estava horrorizada com tudo aquilo, as outras meninas não estavam diferentes. Lua passou por elas e deu uma piscada, guiava Delilah prendendo o braço dela atrás de suas costas, foram juntas assim até a porta da saída, onde Lua lhe deu um empurrão e jogou alguns guardanapos pra ela. Não demorou muito e Peter também estava sendo lançado pra fora, mas Arthur não jogou guardanapo nenhum pra ele.
- Oi... – Peter se virou para a menina que passava os guardanapos na cara, ela rolou os olhos e lhe entregou alguns.

xxx

- Ela disse que nunca tinha brigado... – Melanie falou meio chocada, com a porta da cozinha fechada atrás de si.
- Mas eu não acredito! VOCÊS SÃO MACACOS POR ACASO?! – Rayana andava de um lado pro outro, da pia pra geladeira. Lua e Arthur estavam sentados lado a lado em cima da mesa,
mas não se olhavam...

Enquanto Sophia cuidava dos raladinhos no braço dela, Micael estava limpando alguns arranhões dele.
- A gente queria conversar um pouco, vocês podem se retirar? – Arthur pediu e Lua virou o olhar na direção dele na mesma hora.
- Não quero conversar. Nem muito, nem pouco.
- Pessoal... – Arthur olhou todos com cara de andem logo, facilita aí!
- Não quebrem a cozinha, casal-luta-livre. – Rayana falou com a voz pesada. Ela não gosta que seus amigos briguem. Afastou Melanie com um toque no ombro, pois ela ainda estava na frente da porta. Após abrir, saiu com seus passos largos. Pedro saiu logo atrás dela, depois Micael e de mãos dadas com ele, vinha Sophia. Chay saiu por último e Melanie estava parada ao lado da porta aberta.
- Vamos picurruxa. – Chay envolveu seus ombros e a virou de frente para a saída.
- Mas ela disse que nunca tinha brigado! – Mel continuou com seu tom de admiração enquanto o namorado a empurrava carinhosamente para fora. Como estava mais bêbada do que quando os meninos chegaram, deve ter imaginado uma luta de gladiadores. Lua e Arthur ficaram observando todos saírem. A música da festa entrou por uns instantes no cômodo e logo morreu quando Chay fechou novamente a porta. Demorou vinte segundos para que outro som se propagasse ali.
- Ótima conversa Arthur, acho que posso subir pro meu quarto e trocar de roupa agora. – Lua sorriu com ironia vendo que Arthur não pronunciou uma sílaba sequer. Ela saiu de cima da mesa e observou o estado de seu vestido. Mel havia lhe dado e no primeiro uso estava assim. Que vergonha...
- Espere. Eu ainda quero conversar, sobre...
- O que? Ficou chateado porque eu dei uns socos na sua boneca inflável?
- NÃO! NÃO É DA DELILAH! – Arthur saltou da mesa irritado e a pegou pelos ombros. Depois de um breve mergulho em seus olhos, a soltou e abaixou o tom – Por que você tem mania de colocá-la no meio de todas as conversas?
- Porque você tem mania de ficar entre as pernas dela!? – Lua respondeu em tom de piada.
- PORRA LUA! NÃO DÁ PRA FALAR SÉRIO? – Arthur deu um soco na mesa e por sorte ela não se partiu ao meio. Lua estremeceu de susto.
- O o-oque, o que você quer falar? – ela gaguejou com voz de choro. Arthur fechou os olhos e respirou fundo.
- Perdi o controle, desculpa – Arthur fez menção de se aproximar e ela deu um passo pra trás.
- Você ainda não disse do que se trata isso aqui. – Lua recuperou o fôlego e a firmeza na voz, mas não conseguiu olhar pra ele. Havia alguma coisa na porta da geladeira, logo ali à direita, que parecia merecer mais os olhares dela.
- Você vai, err... morar com o Matthew? – Arthur perguntou coçando o pescoço. Imaginar uma resposta afirmativa para esse absurdo era como se enforcar.
- De onde você tirou isso? – Lua respondeu rápido e logo estava olhando pra ele.
- Matthew me disse que mora no Canadá.
- Então você já sabe... – falou baixo, como se desejasse que ele não soubesse de nada sobre Lua + Canadá = verdadeiro.
- Como eu não ia saber? Parabéns, é o assunto do mês. – ele deu um sorriso forçado, como se obrigasse cada músculo do rosto a desenhar um rasgo atravessado na boca.
- Eu estou indo e não tem nada a ver com o Matt.
- Sei. Tem a ver comigo, não é?
- Com você? – e ela o olhou com um sorriso de descrença. Como quem diz Puxa, se toca!
- É! Você só vai embora pra não ficar aqui e ter que me enfrentar depois do que passamos. Você não quer que a gente converse, não quer me dar uma chance! Será que eu não tenho direito a ser julgado? Eu já fui condenado?
- Chega Arthur – ela bufou impaciente franzindo as sobrancelhas – It's not about you. Não tem a ver com você. O mundo não gira em torno de você. O Dólar não depende de você. O Euro também não. A meteorologia também não. Existem muito mais coisas na Terra além de você.
- Então me explica por que diabos você vai se enfiar no Canadá! – Arthur segurou um dos braços dela e a troca de olhares foi tensa. Se os olhos humanos fossem capazes de enxergar os olhares como faíscas, qualquer um poderia dizer que houve muitas faíscas trocadas, de todas as cores possíveis.
- Eu não te devo explicações da minha vida pessoal. – Lua quebrou o contato visual desviando o olhar para o chão. As faíscas que ainda saíam dos olhos dele esfumaçaram no ar sem ter os olhos dela para aterrissar.
- Não é assim que você diz, para os repórteres chatos? – ela soltou o braço da mão dele.
- Eu nunca os respondi assim. Já vi que você seria uma celebridade antipática.
- Pelo menos eu amaria meus fãs. Não sou como uns e outros que traem todos os fãs, do primeiro ao último.
- Eu ainda sou o seu fã número um – Arthur soltou um sorriso comovente e tentou tocar o rosto dela.
- Arranje outro ídolo. Um que more no mesmo país que você, de preferência. – Lua se afastou antes que os dedos de Arthur, secos pelo contato com a bochecha dela, pudessem se aproximar como queriam. Ele sentiu a decepção na pontinha de cada dedo.
- Eu não vou deixar – Arthur falou mais pra ele mesmo e ela não entendeu. Parou antes de abrir a porta.
- Que?
Ele engoliu seco e trocou a frase.
- Vou pro meu apartamento trocar de roupa, volto daqui a pouco. – Arthur pegou as chaves de seu carro dentro do bolso da calça. Ele foi levar o carro até seu apartamento, mesmo sabendo que não estava nas melhores condições pra dirigir. Depois retornou pra festa a pé.
Em poucos instantes, coisa de trinta minutos, os dois já estavam no meio da festa de novo como se nada tivesse acontecido. Lua vestiu uma camisa cor creme, de tecido fino e agradável no toque. Um jeans skinny e scarpin preto. Arthur fez sua reentrada na festa com uma camisa azul de estampa alegre e informal. Pra completar, calça jeans e All Star.


Depois disso tudo, não aconteceu mais nada muito importante ou memorável... Todo mundo bebeu demais! Micael chegou a confundir Sophia com Melanie, só porque usavam calça jeans e blusas vermelhas. As blusas tinham modelos completamente diferentes, mas vai perguntar isso pra um homem bêbado! Chegou em Melanie, que estava de costas, a cutucou e a beijou quando se virou. Chay viu, mas estava tonto demais pra reagir de outra forma então agarrou Sophia pra se vingar... Mel deu um tapa em Micael, Soph empurrou Chay, os dois caíram cada um num sofá e não levantaram mais!
Arthur dançava animadamente no meio do quintal com uma menina de nome desconhecido, chamando a atenção de muitos pela forma como rebolavam juntinhos. A dança deles estava cada vez mais sensual e Lua assistia sentindo a fumaça sair pelas orelhas! Mas ela não pretendia bater em ninguém... Ao invés disso, preferiu roubar a cena. Ela sabia que estava reagindo diferente às provocações de Arthur agora. Não ia mais fingir que não se importava porque isso é como engolir um remédio ruim e amargo sem estar doente.

Ela chegou na sala e subiu na mesa de centro, que não estava no centro e sim encostada numa parede.
Aviso: A cena a seguir descreve a jovem possuída por um espírito louco denominado álcool.
Lua se pôs a dançar em cima da mesinha e aos poucos as pessoas foram parando para olhar a desenvoltura dela. Mexia o corpo no ritmo das batidas da música que ainda estava no começo e pôs uma das mãos no botão da blusa. Quando a blusa já estava aberta, afastou os dois lados dela. Ainda dançando no ritmo.
Arthur percebeu que houve uma queda de audiência para a dança dele com a garota. Parou de dançar com ela e viu que as pessoas estavam entrando na sala. Conforme se aproximava, foi entendendo um coro que dizia 'Tira, tira!' Ele se animou com o provável striptease que estaria rolando lá dentro. Tentou adivinhar com o pensamento quem seria o louco, ou melhor, o bêbado que estava pagando esse mico. Sentiu os batimentos acelerarem quando conseguiu ver de quem se tratava.
Lua jogou sua blusa e continuou a dançar no ritmo empolgante daquela música. Um cara estranho pegou a blusa no ar e a levou ao nariz, como se precisasse dela pra respirar. Arthur fez cara de nojo com aquela fungada tarada em cima da blusa daquela que ele sempre considerou sua garotinha. Ela agora estava com vários olhares masculinos atentos ao pequeno buraquinho no meio de sua cintura que ia pra lá e pra cá. Arthur quis tampar todos aqueles olhos com um cobertor gigante! Aquele umbigo era dele! Algo tinha de ser feito urgentemente.
Lua estava com uma das mãos sobre os botões da calça. Os gritos de 'Tira, tira' entravam na cabeça dela um por um e a deixavam zonza. Queria que sumissem. Queria que todos se explodissem. Mas se contentou em continuar dançando...
A resposta de Arthur pra tudo isso foi subir num sofá, no outro canto da sala. De frente para a mesa de centro.
Lua parou por uns instantes para encará-lo. Viu que ele estendeu a mão e a mesma menina estranha subiu no sofá também. Aquele era o sofá que Micael caiu sentado, mas ele permaneceu no canto sem se mexer.
Os dois começaram a dançar em cima do sofá e Lua voltou a rebolar. Ela se abaixou rebolando e tocou o queixo do cara que pegou sua blusa, ele agora estava bem ali na frente como um cachorro de rua que observa aqueles frangos girando e assando. Lua podia não estar assando, mas estava esquentando o lugar. Arthur não ficou para trás, ele tirou sua camisa azul e rodopiou no ar. Lua olhou pra ele e mostrou o polegar virado pra baixo.
- ISSO FOI MUITO BREGA, AGUIAR!
A menina que estava com ele deslizou a mão pelo peitoral agora nu e suado. Lua desejou com todas as forças que eles se explodissem juntos! Ela percebeu que estava precisando de um reforço. Avistou Eric ali do lado e acenou para que ele subisse.
- Lua, eu não... – o rapaz balançou a cabeça negando.
- Sobe aí seu gay! – ela o puxou e quando Eric subiu ficou com o corpo bem próximo.
Os dois casais entraram numa espécie de competição por algum tempo. A menina se esfregou em Arthur, Lua se esfregou em Eric. Lua levou a mão de Eric até uma de suas coxas e a outra fez Arthur segurar a coxa dela também... Mesmo Lua desconfiando não ser exatamente o tipo de Eric, se é que você me entende, quando percebeu já estava aos beijos com ele! Abriu um pouco os olhos durante o beijo e pôde ver Arthur olhando pra eles com o rosto vermelho-raiva. Ela sorriu por dentro e voltou a fechar os olhos... Eric movimentava a língua com força dentro da boca dela e ela fazia o mesmo, não tinha total consciência dos atos, mas o beijo estava bom e ela estava se divertindo! Quando se afastou de Eric, os lábios estavam um pouco inchados e pulsavam devido à força que aquele beijo teve. Os dois respiravam ofegantes e quando Lua olhou pro sofá, viu a menina sozinha e Arthur se debatendo com um e com outro pra abrir caminho em direção à saída da casa. Sentiu uma fraqueza nas pernas e abaixou a cabeça vendo que parecia ter quatro pés e todos eles estavam rodando. Levantou o olhar de novo e viu um Eric de três cabeças... Depois não viu mais nada porque ficou tudo escuro.

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